O site com foco na investigação jornalística The Intercept, dos EUA, teve acesso a mensagens trocadas por Sérgio Moro (na foto), quando, enquanto juiz, tinha em mãos o processo de Lula da Silva no âmbito do megaprocesso de corrupção Lava Jato, e os procuradores federais do Ministério Público, que atestam que as petes combinaram a melhor forma de garantir a condenação do antigo Chefe de Estado.

Algumas destas mensagens foram agora reveladas mas o portal garante que tem mais para divulgar nos próximos dias.

Se a justiça brasileira conseguir e aceitar analisar institucionalmente este caso, que constitui uma grave "falha funcional" se for provado, é toda a credibilidade de Sérgio Moro que cai por terra, já de si abalada por suspeitas e acusações da defesa de Lula da Silva de parcialidade no julgamento que conduziu o ex-Presidente à cadeia, onde cumpre ma pena de 12 anos.

Parcialidade essa que teve como objectivo, acusam os advogados de Lula e o seu partido, o PT, impedir a sua recandidatura de forma a abrir caminho à vitória de Jair Bolsonaro, quando todas as sondagens davam uma vitória folgada ao agora encarcerado.

Este inquérito, na sequência das mensagens reveladas pelo The Intercept, foi iniciado pela Corregedoria Nacional do MP, órgão que fiscaliza as atividades funcionais e a conduta dos promotores e procuradores de Justiça.

"Sem adiantar qualquer juízo de mérito, observa-se que o contexto indicado assevera eventual desvio na conduta de Membros do Ministério Público Federal, o que, em tese, pode caracterizar falta funcional, notadamente violação aos deveres funcionais", afirma a decisão publicada na página da internet do órgão.

Mas, apesar das evidências serem de peso, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, declarou confiar "irrestritamente" no seu ministro da Justiça, Sergio Moro, envolvido numa troca de mensagens que coloca em causa a imparcialidade da Operação Lava Jato, afirmaram fontes oficiais na segunda-feira.

O Secretário de Comunicação da Presidência brasileira, Fabio Wajngarten, disse à imprensa local, citada pela Lusa, que informou o chefe de Estado acerca da divulgação das mensagens no domingo, e que na segunda-feira voltou a falar com o governante acerca do conteúdo.

Em ambas as ocasiões Bolsonaro frisou: "Nós confiamos irrestritamente no ministro Moro", declarou Wajngarten.

O que revelou o The Intercept

Conversas privadas entre agentes públicos que participaram na Lava Jato, a maior operação contra a corrupção do Brasil, indicam que houve colaboração ilegal e falta de imparcialidade na investigação.

Este portal iniciou no passado Domingo uma série de reportagens sobre a operação Lava Jato, publicando textos com mensagens e conversas privadas entre promotores e juízes brasileiros na aplicação Telegram, que foram denunciadas de forma anónima.

Os diálogos obtidos apontam para irregularidades na Lava Jato, principalmente as mensagens trocadas entre o procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro.

Segundo o Intercept, conversas privadas revelam que Moro sugeriu a Dallagnol que alterasse a ordem das fases da operação Lava Jato, deu conselhos, indicou caminhos de investigação e deu orientações aos promotores encarregados do caso, ou seja, ajudou a acusação, o que viola a legislação brasileira que exige imparcialidade aos juízes.

O documento determina que Deltan e os outros procuradores da Operação Lava Jato prestem informações ao Conselho Nacional do Ministério Público no prazo de dez dias.

Apesar dos acontecimentos, a Corregedoria Nacional do MP frisa que a "imagem social do Ministério Público deve ser resguardada e a sociedade deve ter a plena convicção de que os Membros do Ministério Público se pautam pela plena legalidade, mantendo a imparcialidade e relações impessoais com os demais Poderes constituídos".

Moro, atualmente ministro da Justiça e Segurança Pública, ganhou notoriedade como juiz da operação Lava Jato, por condenar empresários, funcionários públicos e políticos de renome como o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo o The Intercept, as mensagens indicam que os próprios promotores da Lava Jato tinham sérias dúvidas sobre a qualidade das provas contra o ex-Presidente neste processo.

Noutras conversas reveladas pelo Intercept, um grupo de promotores da Jato Lava discute formas de impedir uma entrevista que Lula da Silva deveria dar ao jornal Folha de São Paulo alegando que a mesma poderia beneficiar o Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições.

O Intercept enfatizou que fará ainda outras reportagens e que todo o material divulgado vem de uma fonte anónima que os contactou e forneceu mensagens trocadas na rede social Telegram, vídeos, fotos e arquivos de áudio.