São 200 "brumadinhos" à espreita para repetir a tragédia gerada na sexta-feira passada pelo desmoronamento da barragem mineira da empresa Vale, um dos gigantes mundiais da mineração, que gera centenas de milhões de dólares de lucro anualmente mas que permitiu esta mortandade e já tinha permitido, há pouco mais de três anos, outro acidente semelhante com uma represa erguida para apoiar a extracção de minérios.

A este propósito, nas declarações feitas sobre a tragédia, uma habitante de Brumadinho, depois de sublinhar que quem vive nesta pequena cidade brasileira "é como se fossem todos uma família", acusou a Vale de negligência por ter construído os escritórios locais a jusante da represa, defendendo que, por isso, " foi um crime e não um acidente" porque, acrescentava: "Acidente é tsunami, não isto".

E o pior é que existem no Brasil pelo menos duas centenas de barragens/represas com as mesmas características técnicas da de Brumadinho e com o mesmo potencial destruidor, isto de acordo com dados fornecidos pela Agência Nacional de Mineração do Brasil (ANM).

Na lista das barragens da AMM, a de Brumadinho constava como de baixo risco de ruptura mas de elevado potencial de causar danos pessoais, sendo que a maior parte das 200 represas com este tipo de definição técnica/mineira, segundo dados divulgados na quarta-feira pela imprensa local, quase 140 estão localizadas na região onde sucedeu esta tragédia.

A Vale, a dona de "Brumadinho", e que detinha ainda a barragem de Samarco, também em Minas Gerais, na cidade de Mariana, no qual morrera, há três anos, dezenas de pessoas.

Brumadinho já estava há anos no radar dos perigos denunciados por organismos civis brasileiros, mas a Vale, devido ao seu poderio financeiro e político, conseguiu sempre contornar as pressões e manter a actividade, apesar do risco de vida sobre centenas de pessoas e, ao mesmo tempo, conseguiu sempre as licenças estaduais para funcionar.