O anúncio da punição à Huawei, que, entre outras consequências, impedia as empresas norte-americanas de lhe fornecer microprocessadores ou de continuar a aceder ao sistema operativo da Google e às actualizações do sistema por bloqueamento do código Android, elevou ainda mais a tensão entre as duas maiores potências económicas mundiais, provocando novo stresse nos mercados financeiros.

Na resposta, a China, pela voz do Governo de Pequim, optou pelo mesmo discurso de distensão, promovendo o diálogo em vez do contra-ataque, mas a Huawei já estava no terreno para avançar com acções judiciais tanto nos tribunais norte-americanos como na estância reguladora do comércio mundial, a Organização Mundial do Comércio (OMC).

O fundador da empresa, Ren Zhengfei, veio, entretanto, garantir que os EUA não estavam a ver bem as coisas e que não era boa ideia "subestimar a força" da Huawei, que, segundo os analistas, tinha o seu projecto de criação da rede 5G ameaçado por estas medidas de Trump.

Nada disso, garante Zhengfei, que acrescenta, nesta reacção à punição de Washington, que o desenvolvimento da rede 5G "não será afectada" e que as concorrentes "nem daqui a três anos" vão estar a par do que a Huawei já conseguiu no que diz respeito à 5ª geração de comunicações móveis.

Ren Zhengfei disse mesmo, em múltiplas entrevistas aos media chineses, replicadas pelas agências internacionais, que a Huawei estava, inclusive, à espera deste cenário para o qual se tem vindo a preparar.

Recorde-se que este "golpe" da Casa Branca na Huawei surge num contexto de guerra comercial entre os dois países que envolve milhares de milhões de dólares em taxas e tarifas sobre as importações de um e de outro, sendo o roubo de tecnologia americana pelas empresas chinesas, como a Huawei, uma das principais razões para o conflito.

Mas a proibição de acesso a bens americanos e de empresas americanas foi agora adiada para 19 de Agosto com o Departamento de Comércio a prolongar a licença à Huawei, justificando com a necessidade de permitir uma adequação e acomodação à nova realidade pelos operadores de telecomunicações suportados por equipamentos da gigante chinesa em todo o mundo.

Isto afecta ainda os "updates" dos seus smartphones, mantendo-se, todavia, as portas fechadas para a compra de software ou ainda os semiconductores, essenciais para o microprocessamento, fornecidos maioritariamente pelas multinacionais norte-americanas Qualcomm Inc, Intel Corp e a Micron Technology Inc.

Porém, segundo analistas citados pela Reuters, este recuo de Washington não deve ser visto como "uma capitulação" mas sim como uma espécie de gestão caseira de danos, porque esta é a única forma de impedir um alargado "crash" em redes de internet, telefones móveis e computadores um pouco por todo o mundo, de onde seriam apontados dedos acusadores aos EUA, inclusive internamente.