A justificação de Yong-ho para a frase que ridiculariza o Presidente dos EUA é que "os cães ladram mas a caravana passa", num claro desafio a Trump, que, só nos últimos dois meses, já ameaçou a Coreia do Norte com a destruição total em pelo menos cinco ocasiões, com destaque para a promessa de fazer cair sobre Pyongyang "fogo e fúria como o mundo nunca viu" em reacção aos sucessivos testes de mísseis balísticos e ensaios nucleares.

As palavras de Donald Trump "parecem o som de um cão a ladrar", disse Ring Yong-ho, em declarações aos jornalistas, indo ainda mais longe, dizendo a Trump que se este estava à espera de surpreender a Coreia do Norte "com o seu ladrar, deve estar a sonhar".

Estas palavras de Young-ho, claramente as mais duras, e ao mesmo "balisticamente" irónicas, atiradas por Pyongyang contra o Presidente dos EUA, seguem-se ao discurso de terça-feira de Trump, onde este considerou o Presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, como o "homem-míssil" (rocket man), que lidera "um bando de criminosos" ao qual voltou a prometer a destruição "total" no caso de os EUA, ou os seus aliados, estiverem ameaçados pelos norte-coreanos, referindo-se especialmente ao Japão e à Coreia do Sul, os dois países claramente na linha da frente desta guerra, que, para já, é apenas de palavras e ensaios e exercícios militares de ambos os lados da barricada.

Nem as sanções, cada vez mais severas, do Conselho de Segurança da ONU, a ponto de a Coreia do Norte já não poder exportar praticamente nada nem importar bens essenciais como combustíveis, parecem travar o pé de Kim e de Trump para aquilo que parece ser uma inevitável guerra.

Isso mesmo pensa a China, que se mostra cada vez mais preocupada com o adensar deste enredo belicista, tendo mesmo aconselhado os bancos a deixarem de emprestar dinheiro a Pyongyang, apelando à calma e mostrando que a sua paciência começa a dar sinais de ceder.

Uma tremenda ironia no meio do delírio mútuo

A Coreia do Sul, o único país que mantém, de facto, uma guerra com a Coreia do Norte desde 1953, ano em que pararam as hostilidades entre o Norte e o Sul com a assinatura de um armistício sem que tenha sido assinado qualquer tratado de paz, acaba de fazer aprovar mais um pacote de ajuda de emergência ao vizinho do Norte, onde milhares de pessoas vivem na pobreza extrema e os cuidados sanitários são quase inexistentes para crianças e grávidas.

Mais de oito milhões de dólares vão ser canalizados através das agências da ONU desde Seul para Pyongyang para serem utilizados no apoio a crianças e mulheres grávidas.

E o ministro sul-coreano da Unificação, Cho Myong-gyon, justificou o acto com aquilo que é a política da Coreia do Sul nesta matéria, afirmando que o país nunca deixou de ajudar o vizinho do Norte, independentemente da tensão política e militar.