A justificação para este encontro é a possibilidade de o Presidente norte-coreano, Kim Jong-un, decidir avançar para mais um teste nuclear ou de um novo míssil balístico, condição já afirmada pelos EUA para um ataque retaliatório contra Pyongyang, por ocasião do 85º aniversário da criação do Exército Popular da Coreia, que hoje está a ter lugar.

Mas por detrás deste "Conselho", sublinhado pela rara reunião do Presidente dos EUA, com todos os 100 senadores, agendada para a próxima sexta-feira, como admitem alguns especialistas em estratégia militar, é que em preparação pode estar o mapa de acção para um eventual pós-ataque punitivo contra a Coreia do Norte, no caso de acontecer uma das duas possibilidades que o justificariam.

As coordenadas para entender este cenário são simples e deverão responder a uma questão: se os EUA atacarem as instalações nucleares ou o sistema de lançamento de mísseis balísticos norte-coreanos como retaliação a um ensaio nuclear ou de lançamento de um míssil, o que se segue?

Para já, sabe-se que Kim Jong-un já prometeu devolver esse ataque com uma "acção devastadora", sem excluir o recurso a armas nucleares, o que, a acontecer, este "tridente" constituído pelos EUA, Japão e Coreia do Sul vão ter de agir em conformidade, até porque é na Coreia do Sul e no Japão que se encontram os alvos norte-americanos, como bases navais, mais próximos e com maiores hipóteses de serem atingidos pela actual capacidade de projecção de fogo do regime de Pyongyang.

Isto, porque, acredita-se nos meios militares, Kim Jong-un ainda não dispõe de um míssil com alcance suficiente para atingir directamente território norte-americano.

É, todavia, mais provável que a Coreia do Norte venha a refrear o seu discurso belicista depois de a China, que é o seu principal, e único, aliado, ter divulgado nas últimas horas um sério aviso, através de um jornal em língua inglesa que expõe as ideias de Pequim no plano da sua política externa, o Global Times, editado na capital chinesa, sobre o "não retorno possível" em caso de novo teste nuclear, que conduziria ao temido ataque punitivo por parte dos EUA, cuja armada, liderada por um porta-aviões, já se encontra nas proximidades geográficas da Península Coreana.

Pequim avisou ainda que, ao contrário daquilo que os EUA pensam, não dispõe de capacidade de influência decisiva sobre Pyongyang, e, contrariamente ao que a Coreia do Norte pensa, não tem capacidade para moderar as intenções bélicas dos EUA e seus aliados.

Entretanto, o Presidente Donald Trump, numa decisão pouco ou nada vista em muitas décadas, mandou chamar à Casa Branca todos os 100 senadores para uma reunião a ter lugar na sexta-feira, com o tema Coreia do Norte em cima da mesa.

E uma das explicações que os senadores vão ouvir na Casa Branca, e não no Capitólio, como é costume, é para a frase da embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, que afirmou, de forma peremptória: "Se (os EUA) virem um ataque a uma base militar, se virem algum tipo de míssil balístico intercontinental, então obviamente que o faremos".

Mas, ainda segundo alguns especialistas nos meandros de decisão de Pyongyang, e sendo hoje claro que Kim Jong-un dispõe de poder nuclear, que pode, por exemplo, usar para destruir cidades na Coreia do Sul ou no Japão, na mente dos estrategas militares dos EUA e aliados é que o regime norte-coreano sabe que não pode sobreviver a uma guerra, que o espera a humilhação de condenações em tribunais internacionais e que isso pode despoletar uma vendaval de decisões insanas que, no limite, podem deixar um rasto de milhões de mortos.