As condições prevalecentes no Kivu-Norte e Ituri, com milhares de refugiados e deslocados internos, com cerca de 100 grupos armados, entre milícias e guerrilhas estrangeiras com décadas de actuação violenta, especialmente as oriundas do Ruanda (FDLR) e do Uganda (ADF), são propícias ao alastramento da epidemia e é isso que as agências da ONU no terreno mais temem.

Porque é nestas duas províncias onde estão confirmados dezenas de mortos devido ao Ébola e, em cerca de um mês, já estão registados mais de uma centena de casos, entre confirmados em laboratório e em fase de confirmação.

A junção desta epidemia aos conflitos armados e aos deslocados pode ser a tempestade perfeita para uma tragédia continental, advertem os especialistas da ONU no controlo de epidemias.

"Milhões de pessoas estão ameaçadas", advertiu o Alto-Comissariado para os Refugiados (HCR), descrevendo o cenário como estando ocupado, só no norte do Kivu Norte, por mais de 100 grupos armados que têm vindo a intensificar os combates entre si.

"Testemunhos descrevem a ocorrência de dezenas de massacres, deasalojamentos forçados e outras agressões aos Direitos Humanos", notou o porta-voz do HCR em Genebra, Suíça, Andrej Mahecic, enfatizando a gravidade da situação presente no chamado "triângulo da morte", entre as vilas de Eringeti, Mbau e Kamango, na fronteira com o Uganda, o que facilita muito a dispersão do vírus para aquele país, sendo a situação semelhante entre Beni, Oicha e Mavivi.

Também os Médicos Sem Fronteiras, que têm equipas de resposta no epicentro da epidemia, Mangrina, descrevem um cenário onde diariamente chegam novos doentes aos postos de socorro e alertam para uma "situação longe de estar controlada", temendo que esta epidemia possa agravar-se nos próximos dias e semanas.

O risco de se repetir a situação vivida em 2013/14 na África Ocidental, onde morreram milhares de pessoas e centenas de milhar fugiram das suas zonas de residência, em países como a Guiné Conacry, Serra Leoa e Libéria, não está afastado, lembram as equipas sanitárias no terreno.

Jà o ministro da Saúde congolês, Oly Ilunga, citado pela Radio Okapi, está mais optimista e, sublinhando a necessidade de manter a atenção e o foco no combate à doença, defende que os registos mostram que está a ser conseguido algum controlo sobre o vírus, espe3cialemnte através de vacinas experimentais que já deram bons resultados em Bikoro, no Equador, onde em Maio surgiu um surto que matou 33 pessoas.

Recorde-se que na corrente epidemia, no Leste, já foram registados 50 mortos.

As equipas no terreno, tal como nas anteriores epidemias, afirmam que as crenças locais de que a doença se trata recorrendo a feiticeiros é um dos maiores problemas dos técnicos na linha da frente do combate ao Ébola.

Tal como no anterior surto, em Bikoro, junto ao Rio Congo, no Oeste do país, também agora os países vizinhos, incluindo Angola, têm medidas de controlo reforçadas nas fronteiras. A chegada do vírus aos grandes centros populacionais é o maior risco.

A primeira vez que foi identificado o vírus de Ébola, a RDC, decorria o ano de 1976 e, desde então, o país já registou 10 epidemias.