Durante os últimos anos de governação de Mugabe, deposto por um golpe militar em Novembro do ano passado, tendo sido substituído por Mnangagwa, que tinha sido seu Vice-presidente, os agricultores brancos do Zimbabué foram alvo de um violenta perseguição e as suas terras foram alvo de expropriações.

Em resultado dessa perseguição, muitos dos agricultores brancos, quase todos com nacionalidade zimbabueana, deixaram o país, provocando uma drástica diminuição da produção num país que dava cartas em África como potência agrícola.

Para estancar este processo de degradação, depois de o Zimbabué começar, também por causa disso, mas essencialmente devido à crise económica que assolou o país, a viver situações dramáticas, inclusive de fome, com uma galopante hiperinflação e a corrosiva deterioração do aparelho produtivo e do desmantelamento do sector turístico, o novo Presidente procedeu a uma revolucionária fase de combate à corrupção e de procura de recuperação da agro-indústria e da agricultura.

Com a controversa política de entrega de terras à população negra sem terras para cultivar, que teve início em 2000 mas que se agigantou a partir de 2010, Mugabe conseguiu, embora longe de esse ter sido o único factor, o colapso da economia zimbabueana.

Agora, Mnangagwa, que foi uma das figuras com mais poder durante a era de Mugabe, como seu Vice-presidente, veio a público garantir que não voltará a acontecer quaisquer perseguições raciais nem quaisquer usurpações de terras aos agricultores brancos.

O candidato da ZANU-PF e Presidente do país desde Novembro último, Emmerson Mnangagwa, tem agora esta atitude de conciliação com a população branca mas durante os anos de maior ênfase da política de expropriação de terras era um dos homens com mais poder no país.

Enquanto Vice-presidente e enquanto ministro de várias pastas, o agora candidato da ZANU-PF liderou também a segurança de Estado, desde a independência, em 1980, que ajudou a alcançar ao lado de Robert Mugabe desde a primeira hora.

Mnangagwa, recorde-se, foi afastado da Vice-presidência a escassas semanas de Mugabe ter sido deposto pelos militares, tendo sido empurrado pela controversa e polémica mulher de Mugabe, Grace, de 53 anos, numa luta interna pelo controlo do poder, visando a substituição do Presidente, e seu marido, com 93 anos.

Agora, enquanto candidato, com Nelson Chamisa, do MDC, que substituiu o falecido e histórico Morgan Tsvangirai como principal rival da ZANU-PF, Mnangagwa, dirigindo-se a um grupo de agricultores brancos, em Hararé, disse e sublinhou que o problema da invasão de terras "é um assunto do passado" e que a "lei vai prevalecer".

"Não podemos continuar a pensar em termos de quem possui o quê em termos de cor da pele. É um crime pensar assim, porque negro ou branco, um agricultor é sempre um agricultor e um agricultor zimbabueano, ponto final", reafirmou Emmerson Mnangagwa, sublinha do que o seu Governo é e será "racialmente cego", apelando à experiência e saber de todos os 16 milhões de cidadãos do país.

Assumindo o falhanço das reformas agrárias no país dos últimos anos, o ainda Presidente e candidato pediu directamente aos agricultores e proprietários de terras branco para manterem a vontade de contribuir para o desenvolvimento do Zimbabué.

Este país, que foi, até à reforma agrária desastrosa de Mugabe, considerado o celeiro de África, devido à qualidade e à quantidade da sua produção agrícola, conhecido pela suas vastas reservas e parques naturais, que atraiam milhões de turistas todos os anos, as lucrativas minas de diamantes e de ouro, caiu num vórtice de miséria que agora procura recuperar.

O Zimbabué tornou-se "independente" da Inglaterra em 1965, através da criação de um regime de apartheid, liderado por Ian Smith, com a minoria branca a governar o país até 1980, ano em que a ZANU-PF de Mugabe e Mnangawa, assumiu o poder, dando origem à independência definitiva num processo de intensas negociações que ficou conhecido como o processo de Lancaster House, abrindo as portas a eleições naturalmente ganhas pela ZANU-PF.