Por detrás desta tentativa de limpar a imagem, onde, inclusive, critica os seus apoiantes que invadiram o Congresso, depois de lhes ter chamado, horas antes, "pessoas maravilhosas e especiais", está, segundo analistas citados hoje em vários media norte-americanos, a ameaça de, nos 13 dias que restam do seu mandato, e depois da "vergonha" do que se passou no Capitólio, onde funcionam as duas câmaras do Congresso, Senadores e Representantes, enfrentar um impeachment (destituição) ou a aplicação da 25ª emenda à Constituição.

Sobre o impeachment, este, a ser activado, devido ao escasso tempo que lhe resta até Joe Biden e Kamala Harris assumirem o poder, 13 dias, só teria efeitos depois da cerimónia de 20 de Janeiro mas teria uma consequência colateral que seria uma mancha histórica ao mesmo tempo que o impedia de voltar a candidatar-se em 2024, como, alias, já ameaçou que vai fazer.

Mas o mais grave seria a activação da 25ª emenda constitucional, que compreende a sua saída imediata do cargo, por incapacidade evidente para dirigir o país, mas isso implicaria que o vice-Presidente Mike Pence, e ainda a maioria dos elementos da sua Administração estivessem de acordo quanto à sua debilidade incapacitante para o exercício do cargo, o que, depois de ter sido ele a incitar à invasão do Congresso, poderia, de acto, suceder.

Para já, esses dois cenários estão apenas a ser considerados como hipótese mas são igualmente colocados como possibilidades devido aos malefícios que Trump pode provocar aos EUA no tempo que lhe resta de mandato, sendo disso melhor exemplo o facto de Washington amiúde usar a irrepreensível democracia norte-americana para exigir além-fronteiras que a democracia seja consolidada, especialmente em África, tendo agora mostrado ao mundo debilidades semelhantes com a invasão do Congresso.

Para colocar um tampão sobre este episódio negro da história de 231 anos de eleições e democracia nos EUA, Trump disse neste vídeo, que levou mesmo o Twitter a levantar circunstancialmente a sua proibição de usar esta rede social (Facebook e Instagram também lhe fecharam a porta), que a cerimónia de transição do poder para Joe Biden vai ter lugar como previsto a 20 de Janeiro de forma pacífica, sendo essa a sua única preocupação para os dias que lhe restam de poder.

Trump fala mesmo neste vídeo de "cura nacional e reconciliação" para as quais diz que vai contribuir ao garantir uma tomada de posse aveludada e suave, ao mesmo tempo que apontava o dedo aos invasores do Capitólio que diz agora terem protagonizado um "acto hediondo" que o deixou "furioso" com a ausência de "ordem e lei" naquele momento.

Recorde-se que a polémica sobre a ausência de segurança no acesso ao Capitólio está a estalar nos EUA, especialmente devido à comparação com o que sucedeu por altura dos protestos contra as mortes de negros por disparos da polícia nos EUA, onde as escadarias surgiram em imagens vistas em todo o mundo com pejadas de elementos da Guarda Nacional, que é a reserva do Exercito, quando, agora, as portas estavam apenas seguras por um punhado de agentes da polícia do próprio Congresso.

Isto levou a que fossem produzidas imagens e cartoons a ironizar de forma séria com o facto de os protestos dos negros levarem a reforço da segurança pelas Forças Armadas e a ameaça à segurança por uma turba de apoiantes radicais de Trump não merecer a mesma prevenção, sendo isso visto como "privilégios de brancos".

Apesar de tudo, Trump voltou a elogiar os seus "maravilhosos apoiantes", agora sem se referir à turba invasora do Capitólio, prometendo-lhes que a "jornada incrível" para fazer a "América grande de novo" está "agora a começar".