Algumas organizações internacionais começam a ter cada vez menos paciência para aceitar a permanente anormalidade institucional na Guiné-Bissau, que voltou a suceder agora devido à não publicação dos cadernos eleitorais dentro do prazo legal, gerando dúvidas sobre a transparência da votação.

A campanha eleitoral começou hoje, sem problemas relatados nas primeiras horas e as 21 formações partidárias saíram com as suas máquinas de propaganda para as ruas das localidades deste país com uma população de cerca de 1,5 milhões de habitantes, metade da qual a viver na sua capital, Bissau.

Estas eleições já deveriam ter tido lugar em Novembro de 2018, mas problemas de organização, falta de meios e forte crispação política, levaram ao seu adiamento.

Essa situação levou o próprio Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a apelar a que os protagonistas políticos se entendam, que coloquem os interesses do país à frente das suas prioridades, porque a situação actual "é muito frágil".

Alias, as Nações Unidas, a União Europeia, a União Africana, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), emitiram um comunicado onde unem esforços num apelo para que seja criado o ambiente mais propício ao exercício democrático pacífico e que as eleições sejam transparentes e inclusivas.

Em liça vão estar 0s 102 lugares no Parlamento guineense e, ainda mais importante, a definição do papel dos principais partidos, destacando-se entre os demais o histórico Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e Partido de Renovação Social (PRS), fundado pelo antigo e já falecido Presidente da República Kumba Yalá, ou ainda o Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), formação criada com dissidentes do PAIGC e que conseguiu vencer as eleições de 2014.

As cidades de Bissau e de Bafatá, ou ainda Mansoa, as três maiores urbes do país, são os palcos escolhidos pela maioria dos partidos para dar o arranque à campanha, que, apesar de não ter ainda observado quaisquer problemas de maior, estão já marcadas pela não publicação, por parte do Gabinete Técnico de Apoio Eleitoral, dos cadernos eleitorais, gerando suspeitas entre alguns candidatos sobre se isso não esconderá uma intenção de subverter a vontade dos eleitores através da fraude.

Para já, a resposta oficial é a de que se trata apenas de um problema de organização gerado pela falta de meios que não foi suprimida de forma atempada, mas não é, claramente, um bom sinal para o esforço exigido para colocar um ponto final na prolongada crise política em que este pequeno país lusófono vive, praticamente deste o raiar da independência, em 1973, mas com alguns momentos mais complexos.

Entre estes estão a guerra que levou ao fim da ditadura de Nino Vieira, em 1998, os sucessivos golpes de Estado, assassinatos de chefes militares ou do próprio Presidente Nino Vieira, e, agora, com uma sucessão, desde 2014, de seis primeiros-ministros nomeados e demitidos por um Presidente da República, José Mário Vaz, que se tem mostrado, no mínimo, tempestuoso.