Desta feita, os EUA, através de John Bolton, conselheiro de Defesa do Presidente Trump, vieram justificar o envio da armada, o principal meio de pressão militar dos Estados Unidos no mundo, para o Médio Oriente, por terem recebido informações válidas sobre ameaças aos interesses norte-americanos na região e contra os seus aliados, como Israel ou a Arábia Saudita, embora sem nomear quais e que tipo de ameaças se tratam.

Face a isto, o Irão, através do seu Presidente, Hassan Rouhani, já veio minimizar este movimento militar dos EUA, apelidando-o de manobras para pressionar o Irão, garantindo não temer este tipo de ameaças e, ao mesmo tempo, passou ao contra-ataque, ameaçando com o retomar do programa nuclear através do fomento do enriquecimento de urânio e de água pesada, dois elementos essenciais à produção de armas nucleares.

Apesar de Rouhani desvalorizar a pressão norte-americana, a verdade é que a situação está a ser levada a sério, pelo menos por Moscovo, que tomou a iniciativa de convidar o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, para uma reunião na capital russa com o seu homólogo Sergei Lavrov, para discutirem, segundo a agenda oficial a questão da crise na Venezuela - Moscovo e Teerão apoiam Nicolás Maduro - e a guerra na Síria, mas é a crise iraniana, com as ameaças dos EUA em pano de fundo, que prendem a atenção das duas diplomacias.

A resposta de Rouhani às manobras militares norte-americanas nas barbas de Teerão foi abrir a porta à retomada do programa de enriquecimento de urânio, embora com um pressuposto que agrada aos russos, que é a definição de um prazo de 60 dias para que os outros actores do acordo nuclear assinado em 2015 - era Presidente dos EUA Barack Obama -, que são a União Europeia, a China e a Rússia, tomem em mãos a missão de reequilibrar as coisas, o que passará sempre por compensar os efeitos das sanções dos EUA contra as exportações de petróleo iranianas, cujo impacto económico é devastador para o país.

Para já, a Rússia colocou-se ao lado de Teerão, afirmando o Kremlin apoio a "postura equilibrada" do Irão, que aponta ainda como um "parceiro responsável" no âmbito do acordo nuclear de 2015.

Moscovo considera ainda ilegais as sanções norte-americanas que impactam no Irão e nos seus aliados, manifestando a opinião de que estas equivalem a "concorrência desleal nos mercados mundiais, sobretudo no da energia".

As sanções dos EUA ao Irão foram accionadas no ano passado mas deixaram espaço para excepções que permitiram a países como a China, a Índia, a Coreia do Sul, Turquia ou Grécia manter as compras de petróleo iraniano.

Mas essas excepções foram abruptamente anuladas por Trump esta semana, secando a capacidade exportadora iraniana.

Donald Trump desenhou as actuais sanções à medida do Irão, porque sanciona as empresas dos países que importem petróleo iraniano com dificuldades para exportar para os EUA, como por exemplo viaturas, o que levou países como a França e a Alemanha a recuar face á primeira opção, que era ignorar os ditames de Washington.

Em síntese, com o envio de vasos de guerra para águas internacionais próximas do Irão, e as sanções accionadas sem excepções, os EUA estão a afirmar claramente que subiram a escada da tensão um degrau, pelo menos.

Até que ponto este movimento da armada dos Estados Unidos, com o accionamento de um porta-aviões, pode ou não significar a preparação de ataques à infra-estrutura nuclear do Irão - Trump sempre disse que não acreditava que o programa nuclear tivesse sido desmontado como indicada o acordo de 2015 -, poderá ficar a saber-se nas próximas horas, quando surgirem as respostas da Europa, da China e da Rússia às cartas de Hassan Rouhani a pedir gestos efectivos face aos inamistosos movimentos de Washington.