A acusação, que partiu do Centro de Assistência Legal namibiano, uma organização que pugna pelo acesso à justiça das minorias e dos mais fragilizados economicamente, sustenta que Hage Geingog, líder da SWAPO, com 79 anos e Presidente da Namíbia desde 2015, "violou a lei que proíbe a discriminação racial".

Isso, porque Geingob acusou publicamente a comunidade de eleitores brancos da Namíbia de ter declarado guerra ao seu partido porque se está a organizar no sentido de prejudicar a SWAPO, partido fundado por, entre outros, Sam Nujoma, em 1960, tendo este sido Presidente do país de 1990 a 2005, concentrando os seus votos noutras forças partidárias.

A directora do Centro de Assistência Legal - Legal Assistance Centre, Toni Hancox, justifica a acusação, citada pelo The Namibian, com a certeza de que "a decisão de votar num ou noutro partido não pode ser considerado uma declaração de guerra a qualquer outro partido, mas sim um direito democrático de qualquer cidadão".

As declarações polémicas de Hage Geingob foram proferidas na semana passada no momento de lançamento da campanha eleitoral para as eleições locais em Windhoek, sublinhando que tinha constatado que estava a ocorrer uma situação onde um grande número de elementos da comunidade branca da capital do país estava a inscrever-se para votar.

Nessa ocasião, como os media namibianos, noticiaram, Geingob, na condição de líder da SWAPO, disse que essa organização estava a ser feita para votarem massivamente noutros partidos que não o seu, conasiderando isso como uma "declaração de guerra" ao histórico movimento de San Nujoma, lider que sempre pugnou pela segurança desta comunidade após a libertação do país do controlo do regime do apartheid sul-africano.

Hage Geingob chegou mesmo a dizer que a guerra dos brancos ao seu partido estava em curso apesar destes sempre terem usufruído de um clima de "paz, conforto, unidade e segurança".

Hancox, face a estas palavras, raras na Namíbia, país onde a comunidade branca foi poupada à pressão que, por exemplo, sofreu a comunidade branca no vizinho Zimbabué, ou que está a acontecer agora na África do Sul, com a expropriação de propriedades sem direito legal a qualquer compensação, lamentou que um país que sempre teve eleições pacíficas desde a sua independência, esteja agora a ver emergir este tipo de comportamento sem que nada o justifique.

"O Centro de Assistência Legal é contra qualquer caracterização dos eleitores namibianos por raça ou etnia. Nem todos os brancos pensam da mesma maneira, assim como nem todos os negros pensam da mesma forma quando decidem em quem vão votar. Todos os namibianos têm direito, especialmente face ao seu passado e história, de serem vistos como indivíduos e não julgados com base na sua raça", disse Toni Hancox.

Também o Partido Popular Democrático (PDM), liderado por McHenry Venaani, veio a público criticar Geingob pelas suas palavras, que considerou ofensivas e nada democráticas, tendo mesmo feito uma queixa à provedoria de Justiça.

A vice-presidente do PDM, Jennifer van den Heever, acusou o líder da SWAPO de procurar intimidar os eleitores da comunidade branca e de cercear o seu direito democrático de participação política na Namíbia.

A comunidade branca na Namíbia é constituída por cerca de 100 mil pessoas - num total de cerca de 2,5 milhões -, a maior parte são afrikaners, descendentes de sul-africanos - a África do Sul foi o país que governou a Namíbia até 1990 -, mas são igualmente numerosos os imigrantes ingleses e portugueses e so seus descendentes.

A esmagadora maioria está concentrada na capital, Windhoek, mas também algumas cidades costeiras como Swakopmund, onde é maioritária, ou Walvis Bay e Lüderitz, são locais com forte presença desta comunidade, podendo, se optar por concentrar os seus votos, influenciar o resultado eleitoral em eleições locais.