O primeiro número atirado para o meio da polémica veio do presidente da Câmara de Comércio e Indústria da Nigéria, que estima ter o país perdido com este adiamento inusitado das eleições pelo menos 1,5 mil milhões de dólares.

Muda Yusuf considera, citado pela AFP, que se trata de "uma perda horrenda" de dinheiro com esta opção por parte da Comissão Eleitoral, que, recorde-se, a justificou com a necessidade de garantir que as eleições não iriam ferir a democracia nigeriana, depois de terem sido divulgadas notícias sobre o desaparecimento de dezenas de milhares de boletins de voto a caminho das mesas de voto espalhadas pelos 36 estados que constituem o mais populoso país do continente africano.

Na linha da frente da corrida presidencial, entre cerca de 70 candidatos, estão o actual Presidente, Muhammadu Buhari, um velho leão da política nigeriana com 76 anos, tendo já ocupado o cargo entre 1983 e 1985, onde chegou através de um golpe de Estado, e Atiku Abubakar, de 72, e ex-vice-Presidente, com uma influência alargada junto da população mais jovem e a quem as derradeiras sondagens davam uma ligeira vantagem para a vitória.

Buhari, perante as suspeitas de intenções de alterar artificalmente os resultados, como é o caso se se provar que os boletins de voto foram desviados com esse fim, disse publicamente que deu ordens aos militares e à polícia para agir sem piedade contra aqueles que estiverem por detrás desses esquemas, deixando mesmo no ar a sua aceitação de atirar a matar quando diz que "quem for apanhado, estará a cometer último crime" na sua vida.

Para além das eleições presidenciais, em liça vão estar, quando as eleições tiveram lugar, no próximo Sábado, 23, os cargos de governação local, entre governadores, parlamentos estaduais e o Parlamento nacional, com mais de 84 milhões de eleitores inscritos entre os cerca de 200 milhões de habitantes que se estima na Nigéria, país que não realizada censos populacionais há décadas.

Enquanto maior produtor de petróleo do continente africano, apesar de Angola ter estado nesse lugar durante alguns meses, principalmente por causa dos ataques sistemáticos de guerrilhas que actuam no estratégico Delta do Níger, onde se concentram os grandes blocos de produção do país, a Nigéria tem índices de desenvolvimento humano muito baixos e a maioria da sua população vive numa pobreza extrema.

Pobreza essa que torna este adiamento das eleições ainda mais trágico porquanto as pessoas, muito concentradas nas grandes cidades, especialmente em Lagos, que se estima ter mais de 22 milhões de habitantes, são obrigadas a gastar dinheiro que não possuem para se deslocarem às suas terras de forma a poderem votar, sendo isso um "enorme sacrifício", como revelam alguns nigerianos citados nos media nacionais.

Comércio fechado, economia encerrada

Uma parte substancial dos prejuízos resultou do facto de, devido a essa circunstância, a maior parte das empresas e do comércio local terem encerrado na sexta-feira de modo a permitir que os trabalhadores se deslocassem às suas terras natal, onde já estavam quando, a escassas cinco horas da abertura das urnas, a Comissão Eleitoral anunciou o adiamento da votação.

Ora, isso, segundo recordou o líder da Câmara Comercial e Industrial da NIgéria, impõe que, de novo, esta sexta-feira, mais uma vez o país vá assistir a um dia inteiro de economia paralisada, com destaque para o gigantesco centro comercial que é a cidade de Lagos.

Mas o pior, como recorda é que, devido aos custos inerentes, a maior parte dos nigerianos que foram a casa na passada sexta-feira para votarem no Sábado, não regressou ao trabalho porque teriam de fazer a mesma distância de novo oito dias depois.

A Economia esteve "parcialmente paralisada na sexta-feira e totalmente no Sábado", sublinhou Muda Yusuf. O mesmo vai suceder na próxima sexta-feira e no dia da votação, Sábado, 23 de Fevereiro.

Citado pela AFP, o economista Bismark Rewane, vai ainda mais longe e faz contas aos custos indirectos, sublinhando os alinhados com a fragilização da credibilidade do paíse a confiança dos investidores internacionais e nacionais.

O que, traduzido em números, quando essas contas forem feitas, poder-se-á vir a concluir que a Nigéria perdeu entre 9 e 10 mil milhões de dólares, o equivalente a 2 a 2,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) que de pouco menos de 386 mil milhões USD.

Apesar de os dois principais candidatos terem feito veementes apelos à calma, ao mesmo tempo que se acusavam mutuamente de responsabilidade sobre o adiamento das eleições, os analistas temem que novos e mais pesados casos de violência possam vir a ocorrer, depois de durante a campanha eleitoral, se terem registado ocorrência com dezenas de vítimas mortais em confrontos entre apoiantes dos dois lados.

Esta é a 6ª eleição geral democrática a ter lugar no gigante africano depois de décadas de governos opressivos de carácter militar, com especial intensidade na década de 1980, mas que foram uma realidade entre 1966 - ano de início da governação da denominada 1ª Junta Militar, que durou até 1979 -, com o primeiro golpe bem-sucedido, e 1999, tendo o actual Presidente sido o iniciador da denominada 2ª Junta Militar, que "reinou" entre 1983 e 1999, ano em que o país voltou a ter um líder eleito democraticamente, que foi Olusegun Obansanjo.

A Nigéria tornou-se um país independente do Reino Unido em 1960, tendo sido um protectorado de Londres desde 1901.