O apelo contido da frase perfilhada pelo Papa, que exorta o Governo do primeiro-ministro Giuseppe Conte e do seu radical ministro do Interior, Matteo Salvini, que dá a cara pela política restritiva à entrada de ilegais no território italiano, está inscrita num crachá que faz parte de uma campanha lançada por um padre, Nandino Capovilla, denominada "Livre do medo".

Esta campanha surgiu na sequência de uma reunião com a mesma denominação e que foi impulsionada pela forma como o Papa apadrinhou a iniciativa, deixando-se fotografar com o crachá e com a frase "Vamos abrir os portos" bem visível.

O crachá foi oferecido a Francisco pelo padre Capovilla após uma missa celebrada no âmbito da iniciativa "Livre do medo" celebrada pelo Sumo Pontífice em Veneza.

Logo a seguir, a fotografia surgiu nas redes sociais e despoletou uma forte polémica, com o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, a responder em tom crítico, afirmando que o Papa deve dedicar-se aos "assuntos das almas" que ele tem mais que fazer para cuidar dos cinco milhões de pobres italianos.

Esta resposta revela todo o ideário politico de Salvini e do Governo de que faz parte e que vai no sentido de fechar as fronteiras italianas aos ilegais que atravessam o Mar Mediterrâneo a partir das costas de África para proteger os postos de trabalho que fazem falta aos italianos mais pobres.

Quando o actual Governo de direita, com laivos de radicalismo, chegou ao poder em Roma, a Itália deixou de ser um país acolhedor para os mais desprotegidos pela sorte, como é o caso dos migrantes ilegais que desafiam todos os riscos, inclusive de vida, para chegar à Europa fugindo da miséria, das guerras e dos efeitos devastadores das alterações climáticas em África.

E, nesse contexto, tem recusado abrir os seus portos às dezenas de embarcações que procuram resgatar os migrantes perdidos ou naufragados no Mediterrâneo, obrigando, por vezes, a estadias no alto mar de meses a fio.