"Ti Célito", como o Presidente português ficou conhecido em Angola aquando da sua visita oficial ao País, em Março de 2019, deverá ganhar de forma folgada as eleições de Domingo, contando com o apoio alargado das forças políticas do centro-esquerda, o Partido Socialista (PS, no Governo), e do centro-direita, o Partido Social Democrata (PSD) e da direita, Centro Democrático Social (CDS), dando-lhe as sondagens uma votação garantida muito próxima dos 70 por cento.

Com este resultado, o incumbente ganhará a eleição logo à primeira volta, para isso precisando apenas de 50% mais um voto, o que faz com que o principal motivo de interesse nestas eleições seja a disputa renhida pelo segundo lugar.

E aí as coisas estão muito acesas, com o candidato André Ventura, considerado por muitos analistas como próximo dos ideais radicais da extrema-direita, se bate com Ana Gomes, uma política de esquerda bem conhecida dos angolanos pelas posições que tem assumido ao longo dos anos na denúncia de casos de alegados abusos de poder ou apontando o dedo a figuras conhecidas da política nacional como corruptos.

A apimentar esta disputa, Ventura, por entre fortes ataques a Ana Gomes, a quem chamou de "candidata cigana", a minoria étnica mais atacada pelo radical de extrema-direita, já disse que se demite da liderança do Chega, o seu partido, se não ficar em segundo lugar, à frente de toda a esquerda.

Por seu lado, Ana Gomes já veio a público garantir que se for eleita tratará de abrir a possibilidade da ilegalização deste partido porque a Constituição portuguesa não permite a legalização de formações partidárias que defendam ideais fascistas e racistas, como diz ser o caso do partido de Ventura.

Entre os restantes candidatos em quem os portugueses, que são uma das maiores comunidades estrangeiras em Angola, tal como a angolana é uma das mais importantes em Portugal, poderão votar nestas eleições, está João Ferreira, oriundo do Partido Comunista Português (PCP), contando com o apoio deste partido, embora em Portugal os candidatos a PR não dependam do apoio de qualquer formação política e sejam, como a Constituição impõe, independentes.

Fazem parte desta lista Marisa Matias, que conta com o apoio do Bloco de Esquerda e é deputada europeia eleita por este partido; ainda Tiago Mayan, que é um liberal de direita e é apoiado pela Iniciativa Liberal; e também Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, que ficou conhecido naquele país europeu por ser um antigo presidente de junta de Freguesia, a base da pirâmide do poder local, e candidato que se afirma como emanando do "povo" sem privilégios.

Com o país actualmente como um dos que apresentam maior número de casos por milhão de habitantes em toda a Europa, a campanha eleitoral, que se está a realizar por entre fortes medidas de confinamento, tem-se desdobrado entre as opiniões sobre o que há que fazer para combater a infecção da Covid-19 e os ataques entre candidatos, aos quais Macelo Rebelo de Sousa procura afastar-se, embora Ana Gomes, principalmente, não lhe dê tréguas.

Apesar de manterem curtas acções de campanha com a presença de militantes, as ferramentas digitais têm sido a principal via de comunicação dos candidatos com os eleitores por causa das medidas de contenção da pandemia.

Se tudo correr normalmente, Ti Célito manter-se-á como o sétimo Chefe de Estado eleito após a Revolução de 25 de Abril de 1974, que acabou com a ditadura fascista do Estado Novo e abriu caminho para as independências das antigas colónias portuguesas.