Apontando para a chacina de um número superior a cem mil pessoas, tudo aconteceu em 1904 e 1908, quando as tropas coloniais, no primeiro caso resolveram aniquilar o povo Herero, que se rebelou contra as condições de vida inumanas que enfrentavam, e, depois, se viraram contra os Nama, por se terem juntado à rebelião dos Herero.

A chacina dos Nama surge poucos anos depois do "genocídio" dos Herero quando este povo, que, numa primeira fase tinha estado ao lado das forças alemãs, se revoltou, relatam os historiadores, contra a violência inaudita das tropas coloniais.

No processo judicial interposto nos últimos dias, mais de um século depois, os queixosos, descendentes das vítimas, referem que se tratou de uma "campanha de genocídio" e exigem a reparação pelos "elevados danos" causados pela reacção colonial aos protestos dos povos autóctones contra as infra-humanas condições de vida e de trabalho que enfrentavam.

A acção decorre num tribunal nova-iorquino de Manhattan e tem como pano de fundo o facto de a Alemanha ter recusado a participação dos queixosos nas conversações com o Governo namibiano sobre esta questão histórica pendente, que já se prolonga há vários anos.

A Alemanha sublinha sempre e publicamente que quaisquer resultados das negociações excluem o pagamento de reparações dos danos, mesmo que seja o Estado namibiano a recebê-los.

E, citado pelo The Guardian, o advogado dos queixosos, Ken McCallion, admite que não há garantias nenhumas de que alguma da ajuda externa alemã possa, como forma de contornar a questão, ser direccionada para os dois povos, hoje declaradamente minoritários no país, tendo a chacina de milhares dos seus antepassados, provavelmente, contribuído para isso.

Sobre as reparações possíveis e exigidas não são definidas quaisquer somas no processo judicial nem na documentação que o sustenta, havendo apenas referência a que são "incalculáveis os danos" infligidos, sendo os descendentes os naturais ressarcidos em caso de sucesso no tribunal da acção, não só pela chacina mas também porque as suas terras ancestrais foram-lhes retiradas à força.

Tendo ficado para a história como "o genocídio esquecido" da então colónia alemã South-West Africa (hoje Namíbia), as autoridades alemãs, perante esta acção judicial, têm recusado sistematicamente o pagamento de quaisquer indemnizações, apesar de assumirem que se tratou de um genocídio.

Apesar a Alemanha ter sido forçada a pagar indemnizações de guerra pelo holocausto da II Guerra Mundial, sobre este, que os historiadores apontam como o primeiro genocídio do século XX, tem-se recusado sistematicamente a admitir essa possibilidade.

Tal como na II Guerra Mundial, também este foi liderado por alguns dos seus mais importantes lideres militares à época, como foi o caso do general Lothar von Trotha e, afirmam os queixosos, neste caso não há condições para que possam aceitar um pedido de desculpas sem as devidas compensações.

O processo judicial tem precisamente esse objectivo, visto que nas conversas anteriores, Berlim nunca admitiu avançar para o pagamento de indemnizações de motu proprio.