Bemba tinha recorrido ao Tribunal Constitucional (TC) depois a Comissão Eleitoral (CENI) recusar a sua candidatura, alegando que o antigo Vice-presidente da RDC e candidato derrotado em 2002, era inelegível devido a um processo judicial pendente no Tribunal Penal Internacional (TPI).

O mesmo TPI que, em Junho, anunciou que tinha revisto o processo de Jean-Pierre Bemba, anulando a pena de 18 anos a que tinha sido condenado por crimes de guerra na RCA, e da qual já tinha cumprido 10 anos.

Essa ordem de soltura permitiu a Bemba regressar ao Congo para apresentar a sua candidatura, depois de ter sido recebido nas ruas de Kinshasa por várias dezenas de milhares de pessoas, fazendo lembrar as massivas manifestações de apoio que recebeu durante as eleições de 2002/2003, das quais acabou derrotado pelo ainda Presidente Joseph Kabila.

Naquela altura, a RDC atravessou um dos seus mais perigosos momentos, tendo a situação sido acalmada pelo próprio Bemba, que, depois, foi convidado para a Vice-presidência do país, num cenário de sólidas dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral do qual saiu derrotado.

Agora, quando tudo indicava que o velho "senhor da guerra" seria o mais sério candidato à sucessão de Kabila, o seu caminho para a Presidência foi travado pela justiça congolesa com base numa lei que determina que os cidadãos com processos pendentes na justiça não podem ser eleitos para o cargo de Chefe de Estado.

A pena que pende sobre Bemba e que o impede de se candidatar tem a ver com alegados subornos de testemunhas no caso da acusação do TPI sobre crimes de guerra e contra a humanidade cometidos pelas suas tropas na República Centro-Africana (RCA), em 2002, que lhe valera a condenação a 18 anos de cadeia no tribunal internacional de Haia, na Holanda.

Como vão reagir os milhões de apoiantes que Jean-Pierre Bemba tem na RDC, é uma cena para os próximos capítulos da conturbada história da democracia congolesa, que, sublinhe-se, desde a sua independência em 1960 da Bélgica, nunca observou uma transição de poder sem derramamento de sangue.

O actual processo eleitoral em curso é a melhor oportunidade em décadas para que a RDC enverede pelo ciclo de eleições democráticas e sem violência.

Entretanto, também o antigo primeiro-ministro e ministro das Finanças, Adophe Muzito, foi arredado da candidatura, alegando o TC, no seu caso, que existe um conflito entre o candidato e o PALU, partido lumumbista do qual se desvinculou, embora mantendo o assento parlamentar para que foi eleito nas suas fileiras.

Face a este cenário, com o afastamento de Bemba e de Moise Katumbi, antigo governador do Katanga e empresário milionário, Emmanuel Ramazani Shadary, antigo ministro do Interior e homem de confiança de Joseph Kabila - que acabou por desistir de forçar uma 3ª candidatura -, e Félix Tshisekedi, filho do histórico Etienne Tshisekedi, e líder da UDPS, partido que lidera a oposição congolesa, são os candidatos mais fortes à sucessão de Kabila.

Na mais importante sondagem sobre as presidenciais na RDC feita até agora, divulgada em Julho, e ainda com Katumbi e Bemba como possibilidades, Félix Tshisekedi surgiam com semelhantes intenções de voto, na casa dos 18/19% , o que permite extrapolar que, neste cenário, existam condições para uma junção de forças, até porque Bemba já tinha defendido publicamente conversações entre a oposição para a escolha de um candidato único.

As eleições de 23 de Dezembro, segundo o calendário constitucional, deveriam ter tido lugar em finais de 2016 mas, depois de forte violência, com centenas de mortos, foram adiadas para 2017 e novamente atiradas para a frente através de expedientes por Joseph Kabila que, assim, conseguiu manter-se no poder por mais dois anos que aquilo que legalmente poderia.