Este encontro de paz, que decorre na cidade de Kananga, é considerado essencial para preparar o país para as eleições gerais que a oposição, sob ameaça de desencadear novas manifestações violentas no país, exige que tenham lugar ainda este ano, porque a instabilidade do último ano era e é um dos argumentos do Governo de Kabila para adiar a sua realização.

As organizações ligadas à igreja católica congolesa divulgaram dados que apontam para mais de três mil mortos nos 12 meses de violência levada a cabo pelas milícias do antigo chefe tribal, ou Kamwuina Nsapu, da região de Kananga, com mais de 1,5 milhões de desalojados, muitos dos quais procuraram refugia em Angola, na Lunda Norte, dezenas de aldeias destruídas pelo fogo e milhares de feridos, muitos destes amputados com extrema violência pelos milicianos.

Para esta conferência de paz do localmente denominado Grande Kasai, que abrange o Kasai e o Kasai Central, o Chefe de Estado Joseph Kabila, que está no poder até que as eleições tenham lugar e está impedido de se recandidatar por imposição constitucional desde Dezembro do ano passado, quando terminou o seu segundo e derradeiro mandato, pediu logo na sua primeira intervenção que os culpados sejam condenados, exigindo que estes não tenham direito a qualquer amnistia.

"Esta conferência deve estar aberta a todas as sugestões construtivas, excepto o branqueamento da responsabilidade dos culpados pela violência", disse Kabila em Kananga, capital do Kasai.

Estas palavras surgem depois de várias vozes congolesas, como a do empresário Sindika Dokolo, marido da empresária angolana Isabel dos Santos, terem admitido, face à extrema violência das milícias Kamwina Nsapu, que a acção destas teve uma mão por detrás, apontando para a possibilidade de se tratar da mão de alguém com poder ligado a Kabila, que teria visto neste conflito uma possibilidade de manter o adiamento das eleições justificado pela impossibilidade de realizar a votação em todo o país ao mesmo tempo.

Apesar dessas suspeitas, Kabila foi claro nesta sua intervenção inicial no decurso dos trabalhos: "A finalidade desta conferência deve manter-se em aberto as sugestões construtivas, excepto o branqueamento dos responsáveis por crimes graves, pelos massacres e pelas decapitações de inúmeros inocentes".

Kabila disse ainda que a RDC tem sido alvo deste tipo de violência e que os seus responsáveis costumam ficar impunes, razão pela qual quer ver, desta vez, fazer-se justiça, "levando à justiça aqueles que estiveram pode detrás da violência" nos Kasai.

Recorde-se que desde Janeiro de 2015 que a RDC vive numa crise eleitoral, primeiramente provocada pela intenção de Kabila em alterar a Constituição para se poder recandidatar por uma terceira vez, o que gerou manifestações das quais resultaram dezenas de mortos, situação que se voltou a repetir em Setembro e Dezembro de 2016, também por razões que tinham por base as suspeitas de que o regime não queria levar por diante o processo eleitoral que ditará a saída do poder do actual Chefe de Estado.

Alias, Kabila só é Presidente ainda devido a um acordo assinado a 31 de Dezembro de 2016 que, para evitar a continuação da violência, determinou que as eleições terão lugar ainda em 2017, condição que o Governo de Kabila já admitiu poder ser alterada devido a dificuldades financeiras do país.

A oposição já avisou que se não forem realizadas as eleições gerais até 31 de Dezembro deste ano, a RDC vai assistir a manifestações nunca vistas no país.