Desde 01 de Junho deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e as autoridades sanitárias congolesas já registaram 102 casos de Ébola na área da cidade de Mbandaka, onde surgiu o primeiro caso desta mais recente epidemia, dos quais 44 resultaram em morte.

Apesar de mais de 23 mil pessoas terem já sido vacinadas com a vacina que se revelou eficaz na contenção das epidemias na África Ocidental em 2013 e no leste da RDC, que começou no mês de Agosto de 2018 e só este ano foi debelada, a 11ª epidemia congolesa mostra-se resistente e continua a fazer vítimas.

A província do Equador foi onde em 1976 o mundo ficou a conhecer a mais recente ameaça, protagonizada por um vírus que, até então, estava delimitado aos seus portadores naturais, primatas e algumas espécies de outros mamíferos, incluindo morcegos, estando agora o vírus de regresso ao local.

Esta região, com epicentro na cidade ribeirinha de Mbandaka, constitui um risco acrescido porque está situada na margem esquerda do Rio Congo, com fronteira com a vizinha República do Congo (Brazzaville), que é a grande via de comunicação deste extenso país da África Central, que desagua junto à fronteira angolana, na província do Zaire.

De acordo com dados hoje revelados pela OMS, através do seu escritório de resposta às situação de urgência (OCHA), o velho problema da tradição de não recurso às unidades de saúde criadas para o efeito devido ao receio alimentado por charlatães de seitas religiosas ou curandeiros tradicionais está a dificultar o controlo desta pandemia.

"Muitos dos casos mais recentes de morte são registados nas comunidades, porque os pacientes de Ébola escolhem ficar em casa, o que revela uma clara falta de informação sobre os perigos da doença e uma resistência comunitária à resposta médica", aponta este comunicado do OCHA.

Face a esta continuada perversão alimentada por seitas religiosas ou outros actores comunitários, esta organização lança um apelo para uma maior aderência das comunidades ao tratamento e à vacinação, que é a mais eficaz resposta conhecida a uma das mais letais febres hemorrágicas conhecidas, sendo isso igualmente importante para evitar a dispersão regional da infecção.

E o risco de expansão da epidemia é evidente tendo em conta que a cidade de Mbandaka tem mais de um milhão de habitantes e a sua esmagadora maioria vive em condições sanitárias precárias, a partir da qual existem ligações frequentes, via fluvial, para Kinshasa, a capital da RDC, e para Brazzaville, capital da vizinha República do Congo, com a qual ocorrem diariamente substanciais trocas comerciais em fronteiras extremamente porosas.

A juzante do Rio Congo está a fronteira angolana, colocando em aberto o risco de a doença poder chegar ao território nacional angolano, como a própria OMS admite que é possível.