Sylvestre Mudacumura, comandante das FDLR, a mais violenta das guerrilhas com origem em países vizinhos - a outra e a Aliança das Forças Democráticas (ADF), oriundas do Uganda - foi abatido na quarta-feira por um comando de forças especiais das Forças Armadas da RDC (FARDC), no Kivu Norte, próximo da cidade de Rutshuru.

O porta-voz da FARDC, general Richard Kasonga, citado pela estação da ONU na RDC, a Radio Okapi, sublinha que se trata uma importante vitória face às "tremendas atrocidades" cometidas por este líder guerrilheiro, que está há muito tempo debaixo de sanções das Nações Unidas e é um dos mais procurados no contexto da luta contra as guerrilhas e milícias que desde a década de 1990 mantêm o leste da RDC sob uma constante violência, quase sempre perpetrada sobre as populações indefesas.

As FDLR foram criadas em 2000, no seio do grupo étnico Hutu e no rasto do genocídio do Ruanda em 1994, onde mais de 800 mil Tutsis foram mortos às mãos de forças desta etnia maioritária, e desde então operam no leste da RDC, que faz fronteira com o Ruanda.

Esta organização guerrilheira integrou os famosos combatentes, pela violência que exerciam, do Exercito de Libertação do Ruanda (ALiR) e era comandada desde 2009 pelo mais radical dos guerrilheiros, o general Sylvestre Mudacumura, sendo o responsável máximo por milhares de mortos na RDC, ao mesmo tempo que deixa um longo rasto de brutalidade.

A "vitória" das FARDC, que contam com o apoio militar das forças da ONU estacionadas no país, foi conseguida após ter sido assinado o Memorando de Entendimento, em Luanda, onde Ruanda e Uganda, se comprometem em acabar com a crescente e prolongada tensão na fronteira destes dois fundamentais Estados para a paz na Região dos Grandes Lagos, uma das mais tumultuosas do continente africano.

Como um dos primeiros frutos desta assinatura em Luanda, na presença do Presidente João Lourenço, o impulsionador deste compromisso, o Uganda e o Ruanda sentaram-se esta semana à mesa em Kigali, capital ruandesa, onde definiram os sete primeiros pontos concretos para fazer avançar o Memorando de Entendimento de Luanda.

Um dos compromissos assumidos na terça-feira passa por acabar com todas as acções de desestabilização entre os dois países, o que determina que ambos os Exércitos e forças de segurança respeitam integralmente as fronteiras reconhecidas, o que é uma das situações mais vezes denunciada de um e do outro lado.

Um longo caminho percorrido

A par deste problema localizado entre Ruanda e Uganda, neste encontro de Luanda esteve ainda colocada a forte expectativa de que seja o início de um processo de limpeza dos grupos que estão por detrás da violência que há décadas perturba o leste do Congo, especialmente as guerrilhas com origem no Uganda, as ADF, e no Ruanda, as FDLR- ou outros grupos sucedâneos, bem como as milícias locais, quase todos criados na década de 1990 ou início deste século, no rescaldo do genocídio de mais de 800 mil tutsis no Ruanda pela maioria Hutu, em 1994.

O Chefe de Estado angolano esteve por detrás, na primeira linha deste esforço para abrir o caminho para a paz definitiva nos Grandes Lagos, uma das regiões mais ricas do continente africano mas, ao mesmo tempo, uma das mais conflituosas.

Em Julho, em Luanda, os quatro lideres fizeram um esboço do que era pretendido ver consolidado num acordo definitivo entre Kigali e Kampala que, já este ano, chegaram a estar de fronteiras encerradas, num pico de tensão que levou estes dois países para a beira da confrontação militar.

Mas o objectivo é ir mais longe no vasto rasto de violência que abrange os grupos de guerrilha e milícias no leste da RDC, que, segundo vários organismos internacionais, contam com apoios fora das fronteiras do Congo, especialmente dos dois vizinhos mais importantes, o Ruanda e o Uganda, cujos interesses passam, ainda segundo as mesmas fontes, pela exploração dos ricos recursos naturais existentes na parte congolesa, nomeadamente as províncias dos Kivu, Norte e Sul.

O que está em cima da mesa é ainda a extensão destes acordos à criação de condições para o desenvolvimento da região, a integração de todos aqueles que fizeram da participação nas guerrilhas e nos grupos de milícias, como o famigerado M23, em actividades económicas que sejam atractivas, fechar os canais de apoio e financiamento a este grupos e lançar as bases para uma efectiva integração regional, que, por exemplo, do ponto de vista de Angola, tem como ponto central o potencial económico dos seus portos para exportar os recursos naturais legalmente explorados na área, e outras.