Numa entrevista à britânica BBC, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, que a 23 de Janeiro deste ano se autoproclamou Presidente interino, disse que agora estão em cima da mesa "todas as opções" para levar Maduro a deixar o Palácio de Miraflores, em Caracas.

No entanto, com o gigante sul-americano Brasil já fora do cenário de intervenção armada externa contra Maduro , apesar de o Presidente Jair Bolsonaro estar desde o início ao lado de Guaidó, apoio manifestado logo a seguir ao norte-americano e ao colombiano, e com as superpotências China e Rússia, e ainda com o apoio de Cuba, Turquia e México, dificilmente Washington avançará com os seus porta-aviões para os mares das Caraíbas.

Recorde-se que do lado de Guaidó está cerca de meia centena de países, incluindo os vizinhos Brasil e Colômbia, ou os EUA, e ainda o grupo de Lima, que inclui quase todos os sul-americanos e o Canadá, bem como a maior parte dos europeus e da União Europeia.

Até ao momento, Maduro tem conseguido manter o apoio da generalidade das chefias militares do país, tendo Guaidó fracassado claramente no projecto de dividir as Forças Armadas e de encher as ruas do país de populares para a desejada rebelião.

Isto, mesmo com o Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a fazer pujantes declarações de apoio a essa sublevação contra Maduro.

Na entrevista à BBC, Guaidó disse estar grato ao "apoio firme" de Donald Trump e, face à pergunta sobre uma eventual acção militar norte-americana, o autoproclamado Presidente interino disse que uma intervenção internacional será por si avaliada com responsabilidade, deixando claro que essa possibilidade seria por si apoiada.

Sinais contraditórios do Norte

Face a este cenário, os EUA estão a dar sinais contraditórios, porque, se por um lado, Trump já disse que não quer a tropa dos EUA nas praias venezuelanas, o seu Secretário de Estado - que é o nº 2 da Administração - Mike Pompeo, foi claramente menos simpático e disse que os EUA exigem a saída dos russos da Venezuela.

Soube-se ainda que Trump e o Presidente russo, Valdimir Putin, falaram ao telefone sobre este problema, que, recorde-se, alguns analistas admitem ter potencial de desestabilização generalizada das Américas, tendo ambos convergido para a ausência de possibilidades de intervenção militar na Venezuela.

Maduro afirma poder ladeado de militares

Em resposta aos confrontos da semana passada, Nicolas Maduro apareceu na sexta-feira ladeado por soldados numa base do Exército em Caracas, apelando às forças armadas para derrotarem "qualquer conspirador".

"Ninguém ousa tocar no nosso solo sagrado ou trazer a guerra à Venezuela", acrescentou Maduro, citado pela Lusa, num desafio que se seguiu a dias de confrontos, durante os quais cinco pessoas morreram, incluindo dois adolescentes.

União Europeia e América Latina discutem Venezuela

Uma nova reunião ministerial entre países da União Europeia e latino-americanos para abordar a crise na Venezuela arranca hoje na Costa Rica, com o objectivo de intensificar os esforços diplomáticos para uma solução "política, pacífica e democrática".

A terceira reunião ministerial do Grupo Internacional de Contacto para a Venezuela, que irá decorrer até terça-feira na capital costa-riquenha, São José, acontece numa altura em que a crise política naquele país voltou a intensificar-se.

Na capital costa-riquenha, entre de outros representantes, estará igualmente a alta representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e vice-presidente da Comissão Europeia, a italiana Federica Mogherini.

Petróleo

Como pano de fundo para a crise venezuelana estão, segundo vários analistas, a questão da crise social e política, com milhares de pessoas a abandonar o país por não terem como se alimentar, a galopante inflacção e o desmoronamento dos serviços públicos de saúde.

Mas também as sanções norte-americanas que há anos atrofiam a capacidade económica dos sucessivos governos de Caracas, o imenso mar de petróleo que o país tem em reservas, consideradas as maiores do mundo, com mais de 300 mil milhões de barris no seu offshore ou ainda o agravamento da crise económica com a queda do preço do crude nos mercados internacionais a partir de 2014 que levou o caos aos países com economias petrodependentes, como é o caso.