Uma peça de estudo importante, não apenas numa perspectiva meramente teórica ou académica, mas que nos pode ajudar a entender o momento histórico que vivemos e que merece que nos esforcemos por analisá-lo muito para além da espuma dos dias, das reacção imediatistas e das derivas emocionais que fazem perder objectividade, tranquilidade na sua abordagem.Que, presos à voragem do tempo e a algum facilitismo nos leva a cometer erros sem fim, na análise e na subsequente acção, que podem, em última instância, prejudicar todo o desenvolvimento ulterior dos passos que vão sendo dados na consolidação e no aprofundamento de um processo que se pretende transparente, aberto e em benefício da esmagadora maioria da comunidade que integramos.

Rocher - e para o caso é a área que nos importa compreender neste exacto momento - analisa os vários tipos de élite e o seu comportamento, quando confrontados com a necessidade de se adaptarem a um dado período histórico, interrogando-se acerca da sua capacidade de manter a liderança de um processo, consoante as suas competências e as diferentes visões que os diferentes extractos dessa élite conseguem alcançar. E reparte essa posição das élites em duas: uma, a que chama de "sul-americana" (não no sentido geo-político) e outra que denomina de "dirigismo". Expressão com a qual à partida não concordamos mas que entendemos, acompanhando a evolução do seu pensamento. A que define como "sul-americana" confere-lhe a intenção de defender uma orientação do tipo capitalismo liberal que, como sabemos, se estrutura no fortalecimento de uma classe de ou várias classes sociais possuidoras ou privilegiadas que beneficiam das relações económicas com os mercados exteriores. Que tem resultado num "desfazamento económico e social que permanece grande ou crescente, com os canais de ascensão social praticamente bloqueados". O que chama de "dirigismo", atenta a uma vontade e a um plano de desenvolvimento global mais atento à comunidade, ao colectivismo, oferecendo "mais possibilidades de desenvolvimento, com a condição de não cair na utopia ou na corrupção". Cremos, com a apresentação deste quadro, demonstrar que é possível contribuir para a redução de derivas histéricas (até um certo limite aceitáveis em função da realidade histórica particular em que fomos vivendo) e ajudar a abrir um debate sobre os nossos assuntos. Demasiado sérios, graves e suficientemente profundos para que andemos por todas as praças públicas e privadas a discutir pessoas, nomes e cargos, quando o centro de estudo é a discussão de ideias e as suas propostas concretas. E o resultado concreto da definição dessas mesmas políticas.

Ao escolher uma via que se aproxima da segunda escolha que Guy Rocher nos apresenta como uma das suas propostas para uma possível alternativa de caminho para um país nas nossas condições concretas, o Presidente da República abre o caminho para uma nova visão política do país que é de todos nós: a escolha de elementos que, não deixando de integrar a elite, são suficientemente abertos, porque recrutados entre a intelectualidade, sem necessariamente ter como denominador comum a sua origem social. Muito mais próximas serão proximidades ideológicas e uma visão clara - ainda que não sujeitas a um denominador comum que exclua o debate e a discussão. E a possibilidade (necessidade histórica?) de nos tornarmos uma sociedade produtiva que recuse a reprodução das sociedades coloniais, favorecendo o arranque definitivo para uma economia industrial em lugar de uma economia de comércio.

Estamos a assistir e a participar numa fase da vida colectiva que nos possa abrir as portas para resolver um problema crucial em todos os chamados países em vias de desenvolvimento: romper em definitivo com algumas visões ainda estreitas de contextos coloniais e pós-coloniais que vão adiando sistemática e dramaticamente a resolução do problema do sub-desenvolvimento. Já perdemos tempo precioso a discutir pessoas. Os angolanos têm de se habituar a discutir ideias