A Balada da Malandragem Indígena retrata histórias do século presente estilizadas no tempo desta senhora sob a inspiração da tenebrosa arte siciliana de fabricar fortunas.

Os nossos estilistas, especialistas em rasuras artísticas, ao terem mantido fechados a sete chaves os segredos dos seus ateliers, nunca permitiram que se descobrissem as costuras das bainhas.

Isentos, por isso, de investigação, julgavam que poderiam continuar a esconder impunemente os alinhavos, mas acabaram por ser apanhados pelo buraco da agulha...

O retrato destes estilistas não pode, por isso, ser visto do avesso por quem, de um lado, só pretenda contar histórias da malandragem de uma parte, esquecendo-se das malandragens da outra parte.

Lá fora, as labaredas de uma lamentável trapalhada política incendiaram o parlamento moçambicano e acabaram por provocar graves queimaduras tanto na sua oposição como na oposição indígena.

Os seus danos tiveram um efeito de ricochete altamente viral perante uma escusada intromissão nos assuntos internos de um país - Moçambique - que, como disse um deputado da oposição local, "não é Angola".

A partir de Maputo, os angolanos acabaram por ouvir o que não deveriam e o que não estão habituados a ouvir.

Mas aqui dentro as emoções eleitoralistas por lá expelidas também não deixaram de fornecer "munições" à oposição.

E quer gostemos dela quer não, temos que assumi-la como sendo legítima depositária de uma linhagem política diferenciada e até mesmo antagónica em relação a quem governa.

Sem o "torpedo" moçambicano, a bancada do MPLA não teria ouvido, no Parlamento, o que ouviu do deputado da CASA-CE, André Mendes de Carvalho.

Sem o descuido verbal de Maputo, o MPLA não se teria sujeitado a engolir o demolidor saco de "malandros, malandrões e malandrecos" que lhe foi devolvido por um dos seus dissidentes mais notáveis dos últimos tempos: "Miau".

Com este infeliz episódio - que há-de servir de lição para todos quantos andam em (pré)campanha eleitoral -, é recomendável que ninguém se queira apresentar aos eleitores como inocente defendendo, simultaneamente, o seu contrário...

Muitos dos atingidos pela auto-emboscada do Índico serão, seguramente, inocentes. Quer os que fazem parte do partido que nos governa quer os que fazem parte da oposição.

Quer ainda aqueles que, por opção pessoal, pura e simplesmente não querem saber nem de uns nem de outros!

O epíteto, deselegante a todos os níveis, pode ter sido inadvertido, mas as oposições de um lado e do outro lado é que não deixaram, legitimamente, de agarrar a oportunidade para mostrar as suas garras.

A "gafe moçambicana", passível de contagiar outros concorrentes, não é o fim do mundo mas talvez sugira uma reflexão sobre a necessidade de se rodearem rapidamente de uma equipa de profissionais da comunicação - não confundir com os insuportáveis agentes de propaganda - para cuidar das suas imagens. Para quê?

Para, quando falarem de improviso, terem a mesma disciplina na posse de discursos escritos ou nas redes sociais.

Para, na eventualidade de irem a debate na TV, não gaguejarem à procura da palavra certa, evitando, deste modo, desnecessárias controvérsias em torno de "pilhagem, vilanagem, voragem e malandragem". Se calhar não seria má ideia começarem a fazer uso do teleponto... Para que não caiam na tentação de pretender "fazer de cada cidadão um pequeno empresário, detentor de uma micro ou pequena empresa".

(Pode ler esta crónica integral na edição 476 do Novo Jornal ou em digital, que pode pagar no Multicaixa)