Por essa altura as flores desfilam nas ruas, casas, carros, motas e gabinetes. As giletes somem das lojas, se calhar há muito barbudo a cortar a juba. Os chocolates, perfumes, lingeries e outras cenas fazem sucesso nas ofertas em várias bandas, acompanhadas de declarações cada vez mais sui generis de fazer o coração bombear mais forte.

No entanto, mesmo com tanto paleio, xaxo, ofertas, bodas, passadas e orgasmos (ou nem já isso), há quem prefira oferecer ainda bornos, pontapés, bofas, cafriques e ofensas à pessoa amada, quer seja neste mês, nesta semana ou em qualquer outro dia. Há quem "ame" desta forma, com violência, dor, humilhação e desrespeito à pessoa que diz amar.

Diariamente ouvimos o relato de mais um caso de violência entre um casal, quer seja próximo a nós ou distante, mas cujos motivos de tal agressividade ficam muitas vezes por se conhecer de facto, mas que por norma a vítima é quase sempre a dama. As marcas no rosto e no corpo são o cartão de visitas do avilo que "ama" com mbaias, acarinha com cafriques, respeita-a tanto que faz dela saco de pancadas para treinos de luta livre, onde pode fazer o que bem entender, ensaiar uns morotes, kataguruma, pontapés a Van-Damme, bornos a Tyson ou cabeçadas a homem de ferro. Tungo para ele é "normal", diz que a dama "gosta". O mais estranho não é só o gosto estranho por bater a filha alheia com quem namora, amigou, casou, vive, partilha o mesmo tecto, mesma cama, sonhos ou pesadelos e com quem troca fluidos e energias, o mais estranho é ver que mesmo depois de muito tungo damas há que não se vão embora, não aceitam sengar, aguentam mesmo até o dia em que a surra já não faz mais efeito, porque o coração desiste, decide bazar, não mais sofrer, e leva junto tudo o resto, o sopro, o sorriso, a dor, a vida, por causa da última grande "surra de amor", deixando apenas saudades e lamentos.

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