Eu acredito que nem o Ministério das Relações Exteriores ou a entidade governamental responsável pela imagem de Angola ao nível da Comunicação Social e, muito menos, os centros de saber tenham pesquisas específicas a respeito da percepção da imagem que se tem de Angola no exterior.

As apreciações são, na maior parte das vezes, subjectivas e passam pela conversa que cada um de nós vai tendo sobre o nosso país com pessoas estrangeiras de diferentes nacionalidades, gerações e proveniência. As poucas evidências objectivas, como os dados mais recentes do censo geral da população, os vários estudos e outras evidências que fazem referência à posição que Angola ocupa nos diferentes índices mundiais, tendem com frequência a ser negligenciadas ou utilizadas para manipular ou distorcer a realidade segundo o interesse de quem os expõe.

Considero que, como todos os países do mundo, a nossa imagem está marcada por pontos positivos e negativos. Eu considero que entre os positivos e os negativos o saldo positivo fica sempre com o simpático povo de Angola, generoso, heróico e acolhedor, bem como com as enormes potencialidades em termos de recursos naturais que o país possui.

Mas isto não é tudo e pode significar muito pouco quando abundam notícias sobre o nosso país, notícias que nos deixam indignados, casos extremos de desigualdade social, limitada abertura democrática, escândalos de corrupção, fuga de capitais, violações dos direitos humanos...

Não por expor ao mundo os problemas e fragilidades da nossa política interna, mas por mostrar a falta de seriedade e a forma como o presente e o futuro de milhões de Angolanos e Angolanas é encarado. A verdade, porém, é que notícias como essas espalhadas pelo mundo não colaboram com a imagem que Angola tenta construir no exterior.

Sempre me interessei em saber como o nosso país é visto mundo fora. Sempre que tenho a oportunidade pergunto como as pessoas entendem ou percebem o nosso país. Lembro-me do dia em que uma amiga angolana disse que Angola era um país especial. Na verdade, para mim, o pior elogio que alguém pode dar ao nosso país é dizer que ele é especial. "O que é especial (no nosso caso é também atípico) não se encaixa em nenhum padrão universalmente aceite, é estranho, pouco convencional", se calhar é por esse motivo que muita gente crê que o resto do mundo se deve adaptar a nós e não o contrário.

Devido a uma série de factores sociais, económicos e políticos, que todo o mundo conhece, como assimetrias regionais, concentração de renda e a desigualdade de oportunidades, para quem é nascido e criado em Luanda, a noção de Angola pode ser completamente diferente de alguém que mora no Munhango, em Namacunde ou no Luau. Mas o que todo mundo sabe é que Angola tem seus contrastes, seus problemas (que, aliás, são muitos), mas que, apesar disso, um dia pode ser que aconteça o país sonhado durante a luta pela independência.

Alguns empresários e investidores internacionais encaram Angola como um mercado com belas oportunidades de investimento de retorno rápido, outros pura e simplesmente desistem ante as dificuldades para se empreender negócios sem ter de padecer da burocracia excessiva, ou ter de lidar com funcionários que levantam dificuldades para vender facilidades. Para os turistas, Angola é um lugar de difícil acesso, onde as dificuldades começam logo na obtenção de informação, visto, altos preços e péssima qualidade em termos de serviços e infra-estruturas, mesmo que tenha para proporcionar fantásticas experiências, principalmente para aqueles que gostam do turismo rural.

Angola muda de acordo com a origem e os interesses de quem é questionado. (Continua na próxima edição)

*Coordenador do Observatório Político e Social de Angola