Um deles chamou-se António Joaquim Russo. Diziam os seus diplomas que era regente agrícola e médico veterinário. Na realidade, era muito mais do que isso. No dia da sua partida, alguém me perguntou: "Mas, afinal, era engenheiro ou doutor?" Respondi-lhe que era muito mais do engenheiro e doutor. Foi um dos profissionais mais completos, não só da mal tratada agricultura angolana, mas também de todo o país.

Conheci o Russo no Huambo, em 1970. Tinha chegado meses antes para estudar Agronomia e os contactos com os estudantes de Veterinária não eram muito frequentes por razões que tinham a ver com os ditames políticos da época. Mas fomos atraídos um para o outro, tal qual íman, pelas cumplicidades não escondidas. Não por acaso começámos a partilhar mais do que ideias: residência, amigos e, sobretudo, planos e sonhos.

Desde logo, os ideais da liberdade, da justiça social, da independência. Da necessidade de conhecermos melhor a nossa realidade agrária, o que incluía obviamente as famílias, para podermos mais tarde contribuir para o combate à fome e para o desenvolvimento da Angola livre. Foi com naturalidade que, concluído o curso, o Russo «esqueceu» a Medicina Veterinária e foi trabalhar para a Missão de Extensão Rural, onde se impôs e brilhou como poucos e viveu experiências que viriam a ser extremamente proveitosas para todos nós.

A partir de 1975, a equipa que coordenava a estruturação da Secretaria de Estado da Agricultura (depois Ministério) sabia bem da importância política e agrícola da província do Huambo. Por tal razão, propôs a sua nomeação como primeiro delegado provincial da Agricultura. Infelizmente, o poder político, na altura, não percebeu que tinha ali uma grande oportunidade para promover um desenvolvimento inclusivo, criar empregos e evitar o alastramento da guerra civil. Pelo contrário, o Russo apreendeu isso de tal modo que passou a dizer, talvez com certo exagero, que "os camponeses do Huambo eram os melhores agricultores familiares de África nos primeiros anos da década de 70".

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)