A entrevista deixa, porém, escapar a existência de engasgadelas por parte do jornalista. Que tinha obrigação de fazer determinadas perguntas que não fez...

Esperava-se que o Ministro fizesse um diagnóstico crítico do estado deplorável do nosso ensino superior. Esperava-se que, a exemplo do que acontece em países como a Finlândia, Singapura ou o Botswana, advertisse a juventude para a necessidade de investir mais no conhecimento e menos no "canudo".

Porquê? Porque, há trinta anos, a Singapura era a Nigéria. E, nos anos 60, a Coreia do Sul recebia ajuda dos Camarões...

Hoje, o quadro está completamente invertido e não há quem, em matéria de ensino, não se vergue ao sucesso de Singapura e da Coreia do Sul. E onde esteve e está o segredo? Na aposta no saber! Essa advertência era elementar, meu caro ex-Ministro!

É por isso que a Universidade do Malawi, um país sem petróleo, e que há quarenta anos estava atrás da Universidade de Angola, mete hoje esta num chinelo.

Há trinta anos, os recursos tecnológicos da nossa faculdade de engenharia superavam os do Instituo Superior Técnico de Lisboa. É preciso hoje dizer qual é a diferença qualitativa entre estas duas instituições?

Mas, em vez de se debruçar sobre o sucesso do ensino superior noutros países como fonte de inspiração para a melhoria da qualidade do nosso ensino superior, o homem ficou-se por generalidades inócuas...

Resultado: o que do ensino superior ofereceu nessa pobre entrevista é o mesmo que Michael Corleone oferece no filme O Padrinho: Rien de rien!

A entrevista, para quem não o conhecia, teve, porém, o mérito de revelar que tipo de Ministro do Ensino Superior tivemos. Ou melhor, que nunca deveríamos ter tido...

Não sei se é, mas a sua carreira académica até pode ser notável. Mas uma carreira académica que ninguém conhece não dá por si só, competência técnica e craveira política...

Mesmo assim, gostei que o entrevistador tivesse, ao menos, levantado o véu em torno da polémica à volta da American World University.

O próximo ex-Ministro denunciou o envolvimento desta instituição em actos de garimpo académico no nosso país.

Atirando a culpa para cima do antigo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, teve a humildade de reconhecer que "cometemos um erro".

Qual foi o erro? E que consequências advieram desse erro? E quem o cometeu foi responsabilizado? (...)

(Pode ler a restante crónica de Gustavo Costa na edição nº 472, nas bancas, ou em digital, onde pode pagar a sua assinatura via Multicaixa)