Independentemente dos anos de profissão que cada jornalista tem, nesta redacção, praticamente todos (e todas) que por aqui foram passando ao longo destes nove anos de existência, tiveram duas linhas fundamentais de aprendizagem. A que advém, naturalmente, da linha editorial adoptada por este semanário desde a sua fundação e uma outra, assaz mais importante: a de, na companhia das gerações mais antigas, conhecerem tão aprofundadamente quanto a cada um interessava (ou interessa ainda) a história do jornalismo angolano, as suas diferentes nuances e um ponto comum a toda ela: a defesa intransigente da liberdade de expressão, o respeito profundo pelas opiniões diferentes das nossas e o direito de todos, independentemente de discordâncias formais ou de conteúdo, termos o mesmo direito a ser angolanos e angolanas, o que, como se sabe, não é passível de ser determinado por ninguém, por nenhuma entidade "superior" nem uma dúzia de indivíduos que, sem se saber muito bem como nem porquê nem a que propósito, gostam de aparecer como juízes de voto antecipado, condenando todos os que não estão dispostos (como nossos avós e nossos pais) a aturarem a imposição de um pensamento único, seja ele qual for, venha ele de onde vier.

O propósito maior de todas as gerações que lançaram as sementes essenciais para que a 11 de Novembro de 1975 alcançássemos a independência assentava no legítimo direito de todos os cidadãos desta Pátria terem direito ao livre pensamento, a utilizarem os seus recursos mentais e psicológicos ao serviço do projecto de Nação, é certo, mas não forçosamente, do jeito que alguns entendessem. Como se quisessem protelar o sonho maior de termos todos, repetimos, TODOS, direitos e deveres iguais.

Pode a economia recuperar, por via de algum milagre ou por se começar a colocar finalmente as pessoas certas nos lugares certos, como prometeu o novo Presidente da República.

Pode o partido que venceu as eleições renovar-se, reorganizar-se e principalmente tentar recuperar os inúmeros amigos, simpatizantes e militantes que perdeu, por via da imposição de um pensamento que não admite opiniões diferentes, continuando estas a ser de imediato conotadas - sempre por quem de curriculum-vitae, de caminhos de coerência, de honestidade e até de concepção ideológica - pouco tem para apresentar.

O segredo da saída para as inúmeras crises que vivemos, todas resultantes da económica, está no debate. Na discussão franca e aberta dos problemas. No aprofundamento da democracia a todos os níveis. No direito a cada um expressar-se livremente e sem receios. Obedecendo naturalmente às leis em vigor e não ultrapassando a urbanidade indispensável a gente adulta, madura e patriota.

Foi por isso, foi para isso, que nossos Pais e Avós lutaram. Foi por isso e para isso que se embrenharam na luta política, cultural, no jornalismo, na literatura, nos campos de concentração e finalmente na luta armada pela libertação nacional.

Nesta edição com o número 500, vimo-nos obrigados a relembrar tudo isso. Não é aceitável que a alguns dos mesmos que estiveram nessa luta, lhes passe pela cabeça querer fazer de nós um chafardel de carneiros. Nunca esqueçamos: "Nós somos nós mesmos, o povo angolano, que nunca mais ninguém vencerá".