Esta é, entre outras, uma das razões por que achamos que o que está em causa é o futuro do país em 2022. O abrandamento do ritmo dos partidos da oposição, agravado pelas circunstâncias especiais em que ocorre esta disputa eleitoral, não assegura que a mensagem da mudança defendida por tais partidos chegue aos cidadãos. Não pode haver mudança sem que se crie nas pessoas, nos detentores reais do poder do voto, uma dinâmica de mudança e tal dinâmica só pode ocorrer se o discurso político chegar até elas. A tão pouco tempo das eleições não se conhecem ideias concretas para os sectores vitais da sociedade nem propostas sobre como se pretendem resolver os principais problemas. As entrevistas são vagas e pouco frequentes e, que se saiba, não há em perspectiva nenhum debate de pré-campanha.

Como era de esperar, a oposição não tem ritmo para a pedalada imposta pelo MPLA, mas ainda assim, e apesar de todo o clima comunicacional adverso, deveria encontrar os melhores caminhos para passar a sua mensagem. Mesmo que se compreenda o mar de dificuldades causadas pela falta de isenção da cobertura mediática, nenhum dos partidos da oposição está a fazer o suficiente para veicular a sua mensagem nos espaços alternativos com qualidade e grande propagação.

Da parte do MPLA, o problema mantém-se: uma parte do seu eleitorado tradicional acredita numa espécie de renovação de votos que é trazida por João Lourenço, mas a parcialidade e favorecimento da imprensa ressuscitam velhos fantasmas e o espantalho das promessas eleitorais que acabam no dia do voto. Apesar dos sucessivos comícios do candidato, a mensagem de João Lourenço denota igualmente uma certa rotina. O tom e o ritmo com que fala não o ajudam a levar os participantes nos comícios (e quem o ouve na rádio ou vê na TV) a uma fase de empolgamento. O pior que poderia acontecer a João Lourenço é instalar-se a dúvida de que ele seja capaz de protagonizar a mudança esperada. Curiosamente são as acções da imprensa, nomeadamente a sua parcialidade e favorecimento, que mais têm contribuído para essa dúvida. A atitude não neutral da imprensa relembra um estilo prepotente que personifica o tal de "sistema", que assim se faz bem vivo e acaba por envolver o novo candidato como sua parte integrante. Esse é o perigo que se corre e que pode confirmar uma certa retórica da oposição de que nada vai mudar e que ele faz parte da engrenagem (...)

(A opinião semanal de Ismael Mateus no Novo Jornal pode ser lida integralmente na edição nº 478, nas bancas, ou em digital, cuja assinatura pode pagar no Multicaixa)