Mas na realidade estava desencantado com o funcionamento e a prática dos partidos em geral, e do MPLA em particular. Poderia continuar a fazer política e a contribuir para a construção de uma Angola melhor no campo da chamada sociedade civil, esse caos criativo onde as liberdades e capacidades individuais são mais respeitadas e aproveitadas. Assumi-me, pois, como pensador e actor independente, mas não neutro, procurando sempre o lado da justiça e do respeito pelos direitos dos cidadãos.

Penso ser importante falar disto em certas ocasiões para explicar as minhas tomadas de posição. Porque quero uma Angola em paz, justa, democrática no complexo contexto que vivemos e onde a cidadania não seja uma palavra vã, mas sim o vector da defesa e do respeito pelos direitos do Homem (com letra maiúscula para incluir mulheres, homens, crianças, jovens e todas as minorias que integram o nosso mosaico sociocultural), tenho procurado agir nesse sentido. Daí que em termos partidários me assuma como independente, por muito que isto por vezes me custe.

Esta introdução era necessária para o entendimento deste artigo. Quando era adolescente contribuíram muito para a evolução do meu sentimento nacionalista no contexto da época as emissões de Rádio Brazzaville, Rádio France Inter, Rádio Moscovo e muitas outras. Lembro-me de como nos irritavam as interferências ruidosas atribuídas à PIDE quando havia temas quentes. Insistiam connosco com o slogan "Rádio Moscovo não fala a verdade". Talvez.

Mas as emissoras que os angolanos podiam escutar também não diziam o que os angolanos queriam ouvir. As várias gerações com as quais convivi - incluindo os altos dirigentes do MPLA e dos outros movimentos de libertação - viciaram-se a ouvir emissões estrangeiras e isso acontece até aos dias de hoje.

*Membro do Observatório Político e Social de Angola (OPSA)

(A opinião de Fernando Pacheco pode ser lida na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou em formato digital, cuja assinatura pode pagar no Multicaixa)