Continuamos a assistir a um País que desde os tempos do antanho só consegue viver em dois estados: o da euforia e o da descrença. Foi assim na alta do mercado dos escravos e na sua proibição. Foi no tempo do comércio da borracha e o seu declínio por concorrência com os mercados asiáticos. Foi no tempo da cultura do sisal em alta de preços no tempo da 2.ª Guerra Mundial, e passou a uma planta quase ornamental por causa do aparecimento dos sintéticos.

O café, essa cultura que construiu avenidas em Lisboa e bairros em Luanda, caiu a pique no dealbar dos anos 70 do século passado, quando a Organização Internacional do Café (um cartel de meia dúzia de produtores de café muito fechado) se vê confrontada com outros produtores, principalmente de países em que acabadas convulsões internas puderam colocar no mercado um produto melhor e a preços mais competitivos.

A partir do fim dos anos 70 tem sido o sobe e desce do preço do crude a alimentar o quotidiano maniqueísta do angolano!

Da esperança à desesperança vão uns dólares menos no preço do petróleo, e os que governam ufanos da sua capacidade de gestão no tempo da largueza, entram imediatamente num estado de catatonismo gericence, com os resultados a evidenciarem-se todos os dias em largos sectores da atividade social e um pouco na incipiente atividade produtiva do País.

Nestes dias assistimos ao Congresso do MPLA, que poderá ser decisivo para o futuro próximo de um País exaurido das suas riquezas, manietado por falta de recursos para o futuro e desconfiado de todos os que governam ou mandam, que nalguns casos não acumulam as mesmas competências. Claro que o quadro não será tão mau dirão alguns, é pior ainda dirão outros.

Parece-me que mais uma vez vai prevalecer o bom senso possível no partido que nos governa desde a Independência, e na minha opinião pessoal ainda bem!

A substituição requentada de José Eduardo dos Santos pode trazer "sangue novo" ao MPLA e trazer alguma modernidade de métodos e mudança de léxico.

O significado maior das mudanças que se estão a operar, e eu corro o risco de estar a escrever isto sem ter dados concretos, assenta sobretudo num fim de ciclo. Não tanto pela saída de José Eduardo dos Santos, que merece um obrigado generalizado pela forma como dirigiu o País em situações de grande dificuldade, mas acima de tudo pelo fim do repisado "guerrilheiro", do "maquis" e da "luta contra o colonialismo".

Acabou isso, hoje isso é para começar a ser trabalhado pelos historiadores, antropólogos e documentalistas, e temos que, utilizando uma frase de Agostinho Neto, "passar a puxar as noras com as nossas próprias bestas", fazer melhor o trabalho e arranjar cada vez menos desculpas. Não podemos continuar a culpar o colonialismo de uma parte do que não conseguimos fazer, e atirar responsabilidades para as "minas e armadilhas" que foram os últimos discursos de responsáveis máximos que tiveram um eco risível nas caixas-de-ressonância dos "yes men" do regime.

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