China, Estados Unidos da América e Rússia. Todos eles grandes e confiáveis parceiros, mas todos com caraterísticas e modelos de negociação ímpares e até incompatíveis (em alguns casos...). Comecemos pela China. Foi em Junho deste ano que Wang Chen, homem-forte do Partido Comunista Chinês, visitou Luanda. Como todos nós sabemos, os chineses sabem bem o que querem e têm toda a sua política muito bem delineada. Nesta visita, abordaram-se vários assuntos benéficos para ambos os países.

Pelo lado angolano, é simples: aproveitar o forte investimento chinês nos países africanos e estreitar relações com Pequim, por todo o protagonismo e poder que esta potência desempenha na comunidade internacional. E verdade seja dita... quem é que precisa de um melhor aliado? Querem dados concretos? 18 mil milhões de euros investidos, 61,56% das exportações de petróleo angolano - "só" o maior parceiro comercial de Angola. E porque estamos a falar de economia, "não há almoços grátis".

A China, como contrapartida, recebe aquilo que procura insaciavelmente: dimensão geopolítica e geoestratégica em pontos cruciais do globo - Angola faz parte de todo esse plano macro de influência.

A relação com Washington é mais complexa. Depois do encontro de Manuel Augusto com o seu homólogo Mike Pompeo, as coisas pareceram mais claras, quando comparadas com anteriores relações entre os dois países. Aliás, Matthew Harrington, secretário adjunto dos Estados Unidos da América para as relações com África, disse inclusive que as interações entre Angola e Estados Unidos estão "no ponto de viragem de uma relação muito diferente do passado". Ora, sabemos muito bem que a política de governação de Donald Trump é muito imprevisível, e o que hoje é verdade, amanhã deixa de ser. Contudo, pela importância de Angola em África e pelo avanço de outras grandes potências rivais (apesar deste fator ser um motivo negativo para a relação entre os dois países, pela forte pressão norte-americana), especula-se uma maior bilateralidade ou, pelo menos, uma maior intensidade nas relações entre Luanda e Washington, claro, sempre focada no investimento direto em empresas ligadas ao petróleo, a matéria-prima mais apelativa.

A política é algo maravilhosa, não é? Depois de abordar China, Estados Unidos da América também é bastante pertinente mencionar a "aliança" Luanda-Moscovo. Se eu acho que as boas relações, em simultâneo, com estes três países é utópico? Acho, mas João Lourenço não vê isso assim (o que pode vir a ser um problema).

Muito se tem abordado este assunto nos últimos dias, sobretudo devido à presença e intervenção de João Lourenço na Cimeira Rússia-África, em Sochi. Mas as conversas já vêm de trás, muito de trás... Luanda e Moscovo são amigos no passado e irmãos no futuro, pelo menos é o que projeta João Lourenço.

Vladimir Putin vê em Angola um aliado bastante valioso, até pela empatia que demonstra pelo seu homólogo, nem que seja pelos gostos comuns. Segundo li, João Lourenço formou-se numa academia militar na antiga União Soviética, gosta de artes marciais e é apaixonado por temas bélicos.

Vejamos, Angola sempre foi uma zona de influência com forte cariz ativo para a Federação Russa (desde os tempos da independência angolana, a Rússia mostrou-se preponderante no desenvolvimento do país africano), mas também existem relações comerciais em jogo. Segundo o Kremlin, o volume de negócios entre os dois países aumentou 42% nos últimos sete meses, atingindo 34,8 milhões de dólares, revelando bastante todo o crescente fluxo entre os dois países.

Para além disso, a cooperação entre Moscovo e Luanda é bem mais ampla. Pescas, justiça ou direitos humanos são algumas áreas com protocolos já assinados em ocasiões recentes. A cooperação militar é outro dos assuntos sempre em cima da mesa na relação bilateral entre estes países.

Angola vê com bons olhos o apoio técnico no sector militar e o desenvolvimento no setor de segurança, sobretudo pelo poderio militar russo. Do lado russo, tema abordado também nas outras potências, as negociações político-diplomáticas são bastante favoráveis e imprescindíveis quando falamos no conceito de "potência mundial" com ambições hegemónicas.

Angola é um dos países mais importantes de África, com vias de comunicação que ligam o Cabo ao Cairo. Desta forma, a Rússia mantém de perto um aliado que lhe dá acesso a um mercado com 1,2 mil milhões de habitantes, num continente com recursos naturais cada vez mais escassos e valiosos. Assim, no mundo com cada vez mais muros, polémicas e divisões, João Lourenço tem o difícil papel de fazer pontes para o sucesso da sua governação e para o bem de Angola, assegurando um futuro estável para todos os angolanos.