Nada mais natural e, não havendo dúvidas de que o Presidente começa a dar mostras de fadiga, não podemos encarar essa condicionante de ordem biológica incontornável como um fantasma que há-de pôr fim à nossa vida.

Temos de convir que a sua notável e maquiavélica estratégia, gerida com muito calculismo e frieza, nunca deu espaço para que alguém brilhasse à sua sombra.

Mas convenhamos também que, tendo sido, durante muitos anos, o dono da bola, hoje os seus "dribles" já não conseguem "partir os rins" dos adversários, nem mais o permitem levar a bola para a casa...

O próprio, na última reunião do comité central do MPLA, a esse respeito, em resposta a uma inquietação de Amadeu Amorim, não poderia ter sido mais elucidativo: "O homem nasce, cresce e morre. Já não tenho as mesmas capacidades para reunir durante seis a sete horas consecutivas como tinha antes"...

Estamos, portanto, perante uma realidade cristalina, que devemos saber enfrentá-la sem drama e sem sobressaltos de modo a que, desprovidos de sentimentos de revanche e de oportunismo, não venhamos - aí sim - a ficar tramados, hipotecando um futuro de tranquilidade e de segurança que desejo, sem excepção, para todos os cidadãos, incluindo aqueles que aqui, estando como emigrantes ou investidores estrangeiros, apostam em Angola.

Tudo isso, porém, só dependente de nós próprios, das nossas conveniências e convicções e da seriedade com que pretendemos vir a encarar o futuro e defender os nossos interesses e os interesses dos nossos filhos.

Se encararmos esse futuro com coerência, então, passaremos, no exame final, com distinção no quadro de honra.

Mas se, pelo contrário, nos deixarmos soçobrar, então é porque não crescemos e não merecemos o estatuto de seres emancipados, que não conseguem atravessar a estrada sem ser levados pela mão do pai ou do irmão mais velho...

Estou convencido de que estaremos à altura de dar provas de que já somos crescidinhos, que num passado recente, fomos capazes de atravessar o rubicão da história, afastar os fantasmas da guerra civil e da desconfiança mútua, sentando à mesma mesa para traçar o nosso destino de paz e de reconciliação.

Se nos sentimos honrados por termos tido no passado uma liderança forte personificada em Eduardo dos Santos - embora com instituições manifestamente fracas - por que razão não haveremos de demonstrar que já temos noção de "belas artes" cívicas e democráticas?

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