Quando o desemprego é elevado e a economia não recupera, quando há incertezas e desinvestimento por falta dos agentes económicos, quando há um grande desgaste da imagem do Governo e descrença nas políticas sociais, a solução encontrada por muitas lideranças é o de atrair a atenção popular e arranjar-lhe um novo foco, uma nova distracção, enquanto a "boiada" atravessa calmamente o rio, e as "piranhas" ficam entretidas com o banquete que lhes é servido. Os moribundos, e de pouco valor, são sacrificados para que os grandes e mais valiosos não sofram danos.

O primeiro compromisso do jornalismo é com a verdade. A sua lealdade está, antes de mais, com os cidadãos. O jornalismo faz um escrutínio dos poderes e serve de elemento e de espaço para a crítica livre do debate público. Há quem entenda que a liberdade de imprensa é o melhor barómetro do grau de democratização de um país, e o Novo Jornal subscreve.

As fronteiras entre o interesse público, liberdade de expressão, direito de informar e ser informado, rigor, isenção, objectividade e imparcialidade são, muitas vezes, vítimas do apetite de estruturas do poder político, económico ou no nosso caso também do Laboratório Central (a máquina que controla a estratégia de manipulação, propaganda, desinformação e contra-informação).

A necessidade de imposição de uma "verdade oficial", que seja assumida por todos como uma verdadeira causa ou desígnio nacional, é a necessidade de se criar uma narrativa comum para ser aceite por todos. Uma narrativa que se vai reinventando em função da aceitação ou negação popular!

O chef de cozinha do tal Laboratório Central tem consigo os ingredientes e os seus fiéis ajudantes, sendo a receita secreta, tal como é a natureza da instituição. Depois de bem temperado, escolhe-se o "restaurante" que vai servir-nos o banquete. É um pouco como os boiadeiros enganam as piranhas, oferecendo-lhes um boi velho e doente, enquanto o bom gado atravessa o rio. Criam-se verdadeiras manobras de distracção e manipulação mediática, escolhendo bem os alvos e direccionando o discurso. As redes sociais não são esquecidas, cabendo às milícias digitais a tarefa de promover e disseminar as qualidades /propriedades do "pitéu" que anda a ser servido.

O "banquete" que nós é servido poderá alterar a relação dos cidadãos com a verdade. A verdade é que, com o andar do tempo, se percebe que os cidadãos começaram a perder o interesse numa "verdade" que lhes é servida desta forma. Tal como não há almoço grátis na Economia, no Jornalismo também não existem banquetes grátis. O grande problema não são os factos em si, mas, sim, a opinião que os cidadãos têm destes factos que lhes são servidos de bandeja em nome de um interesse público, mas que representam uma luta de interesses corporativos, de grupos e lideranças políticas.

E onde está um dos grandes problemas? É que o bom Jornalismo não se pode deixar triunfar por manipulação e desinformação. Não podemos perder este poder, influência e credibilidade que faz de nós o Quarto Poder para, em nome de agendas políticas de conquista e manutenção de poder ou estratégias das inteligências, façam de nós um Quarto do Poder. Não se esqueçam do nosso dever de sermos independentes, de escrutinar os poderes e construir uma informação rigorosa.

O legado que este discurso tendencioso, que este exercício permanente de propaganda e manipulação deixa, é o de uma crise da verdade no espaço público de comunicação. O poder tem medo que este Quarto Poder tenha poder, mas não consegue estabelecer, com ele, uma relação de equilíbrio, liberdade e independência. Certamente, sempre lhe deu jeito um jornalismo de matilha, em que os jornalistas em bando se juntam e convivem nos mesmos sítios, às mesmas horas, para os mesmos acontecimentos marcados e orientados pelas agendas do Laboratório Central, onde entrevistam e destacam as mesmas pessoas.

A renovação e a valorização do Jornalismo são uma tarefa exclusiva dos jornalistas. Não existe democracia sem jornalismo livre. Temos de perceber os factos e questionar a realidade. Temos de ser a voz alternativa que chega ao cidadão, temos de fazer que eles continuem a acreditar na força e no poder benigno da imprensa. Temos de ter o interesse público e a nobre missão de informar como nossas metas. Não sejamos bois de piranha nestes banquetes que são servidos, enquanto a manada segue a sua trajectória rumo ao bom pasto.