Deu-se o caso de, num curto espaço de dias, ter lido três recensões jornalísticas a um fenómeno sociolinguístico - o crioulismo - que formatou nações na América e em África, mas que, apesar da mesma génese - o colonialismo europeu -, em Angola não passou de uma afloração teórica para configurar meras "ilhas" existentes entre o grosso da população urbana, como as concebeu o poeta e cronista angolano Mário António, partindo de um sentimento lusotropical bebido na tese do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre. Mas que este viria a repudiar quando, numa viagem a Cabo Verde, viu que ali o crioulo, como resultado da mestiçagem causada pelo colonizador, já não era traduzível como um fruto louvável do colonialismo português, mas como representação de uma língua construtora de uma identidade nacional que aspirava à autonomia cultural e à independência política...

Mais tarde, quando radicado em Portugal e doutorado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, dirigido pelo professor Adriano Moreira, ex-Ministro do Ultramar, Mário António, em 1986, num artigo em que elogiava um conhecido investigador angolano, também marcado pelo lusotropicalismo, Alberto de Lemos, ainda o considerava "um dos últimos sobreviventes da sociedade crioula que o colonialismo sepultou."

Reportando este desfecho no meu livro Crioulos e Brasileiros de Angola (ed. Novo Imbondeiro, Lisboa, 2001), eu aduzia: "Dir-se-ia que a crioulidade em Angola estava datada".

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