Não deixa de ser, por isso, interessante termos assistido a declarações de integrantes da direcção do MPLA que se referem à necessidade e importância de retomar o caminho da educação política e ideológica de si próprios. Ou seja, finalmente concluíram que há claramente um desajuste entre o que vem estabelecido no seu programa partidário e o nível real de quem devia executar o mesmo programa.

Num mundo cada vez mais assustador, em que vem sendo claramente visto que há uma real intenção de sermos todos submetidos a uma espécie de ditadura dos mais ricos (vide o Clube de Bilderberg) e onde se assiste a políticas globais que cada vez mais nos querem reduzir à condição de escravos para servir umas quantas dúzias de famílias no mundo, duas questões tornam-se, a curto prazo, fundamentais. A definição e o domínio (teórico e prático) do que queremos, em termos do desenvolvimento real de Angola, e a consequente criação de uma autonomia e independência económica que reforçará a nossa capacidade de sermos soberanos e independentes.

No mais recente livro de Daniel Estulin, um dos mais brilhantes investigadores do percurso criminoso dos integrantes do Clube de Bilderberg, surge uma afirmação do ex-presidente da conhecida cadeia de televisão CBS News Richard Salant: "O nosso trabalho não é dar às pessoas o que elas querem, mas o que nós decidimos que devem ter".

O vazio intelectual que germina à nossa volta, que perdurará por algum tempo ainda, é resultante de um período enorme de tempo em que a ausência de políticas reais e concretas ao nível da educação e da cultura nos acabou por conduzir a um estado de indigência intelectual. Com raras e notáveis excepções, não há pensadores, não há intelectuais, não há exactamente gente que projecte o país para além da espuma dos dias. Há uma espécie de feira de vaidades em que quase todo(a)s se exibem, mas os verdadeiros recursos intelectuais que estudem a nossa realidade, ainda dramática, e as formas de dela sair chocam com um vazio assustador. Bastam uns quantos minutos à frente de um televisor, vendo e ouvindo alguns programas autodenominados recreativos e culturais, para se perceber o grau zero a que chegámos na perspectiva do que se passa como mensagem essencial para os mais jovens do que é a Cultura, do que é a Vida, afinal. De tudo isto resulta em alguma satisfação a chamada de atenção feita para a preocupação de "obrigar" quem tem responsabilidades, no caso partidárias, mas que deviam rapidamente ser estendidas a quem tem responsabilidades executivas, não apenas no sentido ideológico, mas também académico.

Com insistência vimos chamando a atenção para o susto que levamos sempre que somos obrigados a ouvir, a ler, e a tentar interpretar a esmagadora maioria dos dirigentes dos partidos de oposição. Se do ponto de vista individual mal se conseguem expressar, e quando o fazem vem um chorrilho de palavras que às vezes eles próprios desconhecem, que projectos terão para o país, além da vontade de o governar?

Que seja levada a sério esta questão, para que, a médio e longo prazos, Angola possa ter, em quantidade e qualidade, gente de estatura intelectual à dimensão do que o nosso país tem direito. Sem ideologia, sem conhecimento científico, sem o domínio das ferramentas essenciais que permitam, individual e colectivamente, entender o que somos, pensar o que queremos ser e como o vamos fazer, não haverá nunca nem real independência política nem económica. E não podemos esquecer que aquela depende desta.

Para tal, é preciso, é urgente que se criem condições que levem a que tenhamos, num tempo não muito distante, gente que estude, que discuta, que reflicta, que pense e que ajude a abrir os caminhos reais para a saída do subdesenvolvimento de Angola. Caso contrário, nunca deixaremos de ser presa fácil dos senhores que há muito deixaram cair a máscara e querem ser aquilo que vêm sendo: os donos do mundo e das nossas riquezas. Materiais e espirituais.