Não é novidade para os que, conhecendo a História, já constataram o retorno cíclico de crises provocadas principalmente pelos poderes financeiros (como Hilderberg e outros), que foram abrindo caminho, desde que o mundo é mundo para o despoletar de guerras, locais e tarde ou cedo mundiais, utilizando sem escrúpulos, sem limites, o medo, o terror, aproveitando-se da situação para que empurraram as populações, com a imposição de valores de uma sociedade de consumo que os esvazia de toda a capacidade de entendimento, de percepção, empurrando-os para a ignorância, a iliteracia e a inconsciência com níveis só comparáveis com a legião de campones russos descritos magistralmente por Tolstoi, antes da Revolução de Outubro de 1917.

Não tenhamos dúvidas que tudo está a ser preparado pelos grandes senhores do capital, e por uma componente de estudiosos que, sem um pingo de pudor ou de vergonha e pagos a peso de ouro, criam, um pouco por toda a parte, estados de espírito que, pela via do medo, das mais absolutas mentiras, abrem caminho para que os povos, apavorados, se virem para ditaduras claramente fascizantes, que prometem a salvação, quer a terrena, quer a outra, que nos querem oferecer depois de estarmos mortos e enterrados.

É verdade que são problemas a que vamos assistindo alastrarem-se na Europa, na América do Sul, na América do Norte ou no Médio Oriente. Mas não é menos verdade que em África se vão perfilando mil e uma sombras que se preparam para, misturando os mesmos condimentos (seitas, falsas religiões, opressão, falta de escolaridade, condições de vida ignóbeis) querer prolongar eternamente o que fazem há séculos. O fim do mundo onde vêm buscar as matérias-primas, o continente dos governos mais corruptos do mundo, onde temos Chefes de Estado há quase quarenta anos no poder e que transformaram os seus países em coutadas privadas, suas, de seus familiares e aliados. Chamem-nos utópicos, porém, acreditamos que nunca o nosso continente teve condições tão propícias a processos de transformações que nos arranquem em definitivo da condição de subdesenvolvidos (o "em vias de" é pouco mais do que um eufemismo).

Temos hoje, na nossa sub-região, um número já considerável (embora inferior às necessidades que são infindáveis) de quadros bem preparados. Temos populações que pese todos os problemas que as fazem viver em condições infra-humanas, são por natureza, pela sua essência, lutadoras, autónomas e que aderem com facilidade a projectos sérios, a curto, médio e longo prazos que as beneficiem e a outros à sua volta. Temos uma juventude que, se lhe for aberto em definitivo o caminho da uma educação e de um ensino sério e de qualidade, é entusiasta, consciente e poderosa. Desde que não se lhe imponham as talas de dogmas que fragmentam o ser humano e o fazem desviar do que são as acções fulcrais para o despontar de uma nova fase civilizacional que consagre a nossa História, que saiba, de forma multidisciplinar, fazer a ponte entre o passado sonhado pelos Pais das nossas Independências, que acabou por se revelar num trágico presente e num futuro cinzento. Porque as lideranças africanas se esqueceram que os Povos têm de ser o sujeito da sua própria História. Não os interesses económicos das multinacionais. Não as práticas antipatrióticas da esmagadora maioria das nossas elites. Se soubermos conduzir esse processo, dobraremos o cabo do medo e da dependência, deixando de ser, em definitivo, o corpo inerte de que falava o Presidente Agostinho Neto.