Neste sentido, as fontes de informação estão para o jornalista como está a fala para o homem. Daí que o processo de interacção social se proceda através de códigos acessíveis a cada um dos falantes ou participantes do processo de comunicação. E o jornalismo é uma profissão cuja sistematização como ciência não descurou de um conjunto de códigos de natureza ética, deontológica e moral.

De tal sorte que assassínios de carácter e outros articulados de uma selvajaria que em nada acrescenta valor à actividade jornalística não só são evitáveis, como retiram o carácter celebrativo de uma profissão que ajudou e continua a ajudar a construir sociedades mais justas, onde o primado do respeito pelo outro, independentemente das opções políticas, ideológicas, culturais e/ou religiosas não substituem valores nem tão-pouco conquistas alcançadas por esta nobre missão.

Existe uma geração de profissionais da comunicação em Angola que, mais do que no afã de levar ao público-leitor qualquer tipo de informação que lhe chega à mesa de trabalho, tem como preocupação primeira o "valor notícia", e este incorpora em si um elemento de suma importância que não pode, em circunstância nenhuma, ficar à margem da verdade factual.

Não se pode desenvolver uma actividade como o jornalismo quando se está em presença de uma actuação que desrespeite um conjunto de matérias que coloquem em causa o bom nome e manche a reputação de qualquer um de nós, cidadãos. Pelo menos, não deve ser este o caminho para o jornalismo.

Na última edição, através das páginas do Novo Jornal, a empresária Isabel dos Santos viu o seu nome vilipendiado, ao ser-lhe atribuída a titularidade de uma empresa da qual ela não tem qualquer ligação. Por mais estranho que isso possa parecer, esta matéria foi redigida e publicada neste jornal, que ao longo de uma década de existência se tem mostrado como um exemplo de exercício de jornalismo que respeita valores que não podem ser nem sequer postos em causa.

Temos clara noção de que o indesculpável não se explica, ou se o fizéssemos teríamos de assumir que somos no mínimo idiotas - não nos ocorre agora uma palavra melhor. Contudo, em nossa defesa e em nome de todos os valores associados a uma marca de um jornalismo de excelência, que tem sido esta a nossa meta, permitam-nos aqui uma pequena inconfidência: fomos traídos. E este sentimento de traição é ainda mais doloroso por vincula o bom nome de alguém, no caso, da empresária Isabel dos Santos.

A sua reacção nas redes sociais não poderia ter sido diferente daquela que todos nós vimos. E acreditem que o sentimento de indignação que se apossou de nós foi ainda maior por termos sido nós a plataforma utilizada para um golpe tão baixo como foi este episódio da atribuição da titularidade a alguém que nada tem que ver com nada. Portanto, Isabel dos Santos tem razão numa coisa: o jornal publicou uma inverdade. Mas, sem nunca pretendermos tirar-lhe a razão, podemos garantir que nunca foi e nem nunca esteve na agenda deste jornal qualquer intenção maliciosa de colocar em causa o seu bom nome.

Mas não foi só Isabel dos Santos a lesada. Foi também a Aenergy, que viu o seu nome associado a um episódio que poderia ter sido evitado se tivesse prevalecido o bom senso e a idoneidade na fonte deste jornal.

Apesar da dureza do golpe e da ligeireza da intencionalidade, ficou-nos uma lição da qual nunca nos iremos esquecer, porque ficou bastante claro qual foi o verdadeiro propósito da informação truncada que nos deram a publicar. Claro está que não nos vamos demitir das nossas obrigações, claro está que não nos sentiremos diminuídos. Feliz ou infelizmente, são os ossos do ofício jornalístico. E com eles havemos de aprender sempre até obtermos calos. À empresária Isabel dos Santos, as nossas sinceras desculpas públicas, e à Aenergy igualmente.