Padecendo de graves enfermidades, a crise de liderança na (des)ordem dos médicos destapa, em carne viva, a desunião da classe e põe a nu, na praça pública, o seu nível de degradação. E, em tempo de pandemia, arrasta para a lama a imagem de um sector vital para a nossa sobrevivência...

Do lado da bastonária são só alegrias. Com declarações despropositadas a raiar o insulto da intimidade das mulheres médicas, nunca se lhe ouviu uma palavra sobre a orçamentação em 2020 para o combate à tuberculose, de 2.652.722.158.00 Kz para um nível de execução de ZEROOOOOO kwanzas!!!

O entretenimento, afinal, sempre foi o seu prato predilecto. Autoconsumindo-o, nunca percebeu, porém, que o seu teor é demasiado indigesto para a classe. E que a sociedade, mesmo de borla, dispensa a deprimência do prato.

Dois anos depois de ter chegado à Ordem, agora percebe-se qual era, afinal, o seu grande sonho: acabar com a Ordem. Nada de anormal.

Com as morgues a abarrotar de vítimas da malária, que continua a matar incomparavelmente muito mais do que o coronavírus, o que fez a maestra da Ordem perante o avanço da tragédia? Assobiou literalmente para o lado!

A senhora, como diz João Pereira Coutinho, "é como aqueles automobilistas muito senhores de si, que, conduzindo em contramão, não hesitam em culpar os outros por conduzirem em contramão. O desastre é uma questão de tempo..."

Com paradeiro incerto e indiferente a um nível de execução orçamental cifrado em 0,3% de combate à doença que mais mata em Angola, se não for travada, ainda a veremos a apresentar a sua candidatura a Prémio Nobel da Medicina...

Mas, há mais desastres à vista. No domínio das infra-estruturas sanitárias, se é aplaudível ver a ministra da Saúde abrir novas unidades hospitalares de especialidade como, por exemplo, a hemodiálise, já a construção de novos hospitais gerais como uma das prioridades inscritas no próximo OGE levanta sérias dúvidas.

Na visão de alguns especialistas, antes dessa prioridade, dever-se-ia primeiro assegurar o reforço em meios humanos e técnicos e uma melhor rentabilização das unidades das periferias construídas no passado.

De resto, o Prof. Doutor Belchior Silva é categórico nesta matéria: "Se construirmos grandes hospitais com tecnologias avançadas sem formar os quadros para lidar, manter e reparar essas tecnologias, estamos, a curto-prazo, a caminhar para a redução temporal do investimento".

E conclui: "Onde as carências de saúde são básicas, uma boa rede hospitalar não sobrevive sem centros de saúde de proximidade".

Não é preciso dizer mais nada, mas é preciso dizer que, em vez das partes se sentarem e aplainarem as diferenças, aquilo a que se assiste é o adensar, de forma perigosa, das divergências e animosidades. Assim, não é mesmo preciso dizer mais nada...

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