O século XX, eventualmente pelas condições concretas em que se viveu, foi pródigo em trazer, em África e no Mundo, figuras de uma envergadura incomum, por terem sabido, nos vários momentos cruciais da Humanidade, qual o papel que deviam desempenhar e os passos que teriam de ser dados.

Arriscamos mesmo afirmar que, para além das ideologias, sempre no quadro de uma fronteira que recusa liminarmente quaisquer radicalismos sem fundamento, até em gente que defende ideais da então chamada direita (e que hoje com a deterioração acelerada da visão que temos dos políticos, alguns dos dirigentes de então seriam hoje, no mínimo, defensores da social-democracia.

Olhando para a Europa, que sempre se considerou um "exemplo" de democracia e de pluralismo, não é um acaso o perigo que se vai instalando da Alemanha à França, da Itália à Hungria, com fascismos e neo-fascismos à mistura e muitos dos tiques que, mesmo analisando o tempo e o espaço que são diferentes, não andam muito longe do ambiente que antecedeu a 2ª Guerra Mundial.

Regra geral, os chefes de Governo e de Estado de praticamente toda a Europa, são uma mistura de funcionários das instituições bancárias mundiais com a ignorância dos velhos ditadores sul-americanos dos anos 50, 60 e 70, de imagem limpa e lavada, mas quem nas mais das vezes, não passam de peões de um jogo muito mais importante. O dos interesses financeiros dos gigantes mundiais, que manipulam desde as trapalhadas da primeira-ministra inglesa e do seu pouco menos que ridículo Ministro dos Negócios Estrangeiros, às manifestações fascistas dos antigos países comunistas do leste, passando pela anarquia absoluta que reina em Itália e, inevitavelmente, o aliado fundamental desses mesmos interesses, o retardado mental que vai conduzindo os Estados Unidos para o precipício.

É verdade que em África não estamos melhores, bem pelo contrário. No nosso particular, é mais do que evidente - transcorridas estas quatro décadas, que estofo intelectual, preparação política, dimensão ideológica, um conjunto de factores que fazem com que alguém se transforme num(a) político(a), é coisa que por aqui não abunda. Com raríssimas e honrosas excepções, o deserto é o refrão comum a toda esta gente que pulula pelos corredores do poder, esteja no governo ou na oposição. Não há uma ideia, não há um projecto, não há uma frase, uma intervenção, que demonstra, pelo menos, um estudo sério e aprofundado da nossa realidade.

Uns, foram parar a políticos, porque nada mais sabiam fazer na vida. Outros, por via de favores vários e traições muitas, conseguiram o seu lugarzinho que lhes garantiu uma vida feliz e sem problemas. Outros ainda venderem-se por meia dúzia de dólares. A grande maioria não tem sequer ideologia. Estão na actividade política como podiam estar em outro sítio qualquer. Que se saiba, além das trivialidades que todos repetem, não consta que tenham trazido nada de novo para o País, além do linguajar cansativo, gasto e oportunista, que ouvimos há séculos.

Está na altura, forçosamente, de aparecerem outras gerações. Nem pedimos que olhem e pensem o País como alguns ainda o fazem. Com ética, patriotismo, consciência cívica e noção dos seus deveres. Pedimos apenas que estudem, que leiam, que aprofundem os conhecimentos das áreas que, pretensamente, dominam. E quando tal não suceda, que se saibam rodear, pelo menos, de quem sabe.

Esta velha mania de fugir das pessoas sérias, competentes, capazes, com medo de perder os lugares, os tachos e tachinhos que vão tendo, tem de dar lugar a uma nova forma de assumir as responsabilidades. Caso contrário, e acabada a riqueza que parecíamos ter, continuaremos eternamente na cauda do Mundo em todas vertentes que compõem a qualidade de vida de um ser humano. Já não era mais que alguns destes "chico espertos" dessem conta que está na hora de ir à sua vida, que já gozaram demais com a nossa cara, que nunca é tarde para se convencerem que só nos prejudicam e ao nosso País. Já passaram anos suficientes para justificar lugares em função do passado. É preciso governar o país, a sério. E está visto que, se não aprenderam até agora, já é tarde para aprenderem seja o que for.