Quem está a avaliar a eterna fome no Sul do País ou a liberdade para contrariar em Cabinda? Quem avalia a política fiscal e o seu impacto, não nos cofres do Estado, mas no bolso esfarrapado do cidadão e das empresas angolanas sobreviventes, mas em sufoco? Quem avalia os programas provinciais de «Combate à Pobreza, Valorização e Protecção das Competências Familiares», o PIIM, a Desnutrição Infantil e as doações milionárias feitas com o dinheiro do Estado pelas mãos de um grupo de jovens unidos, que veste camisolas militantes, substituindo a falecida Ajapraz? Quem está a avaliar a lógica da estratégia da diversificação da economia, mais pertinente do que nunca neste momento, mas que continua envolta em truques e propaganda e que seja capaz, de facto, de construir sustentabilidade alimentar? Quem avalia a quantidade de informações produzidas pelas Associações angolanas que, na maioria das vezes, conhecem melhor o assunto que o titular da pasta, por trabalharem no terreno e terem mais de 20 anos de consequente e valorosa experiência? Quem lê e avalia os relatórios dos Centros de Estudos de algumas Universidades, que são de elevada qualidade?

Onde estão os medidores do impacto do desemprego na juventude e as suas consequências? Quem avalia a pobreza de argumentação de gestores públicos, a exemplo do governador do Banco Nacional, cuja resposta ao aumento do comércio informal de divisas foi que se prende com o facto de os cidadãos se sentirem mal perante a burguesia das gravatas dos funcionários dos bancos comerciais, não conseguindo explicar como é que as divisas vão parar na rua? Quem avalia cada Kwanza desperdiçado, "inflacionado pela micha" ou que não é prioritário?

Quem estuda estes fenómenos e os avalia com competência? Onde fica este centro de comando estratégico? A razão desta inquietação prende-se com a ausência de sentido de muitas situações que insistem em manter-se, não obstante a reiterada prova de total ineficácia. São programas, estratégias, planos, pessoas, leis e desculpas em abundância suficientes para nos fazerem perguntar se o GPS continua avariado? Para "CORRIGIR O QUE ESTÁ MAL", é necessário corrigir a lógica da estratégia. Não se podem esperar resultados diferentes se se mantiverem os métodos e pessoas de reconhecida ausência de competência e verticalidade. A pandemia não pode ser culpada, pois ela apenas provou a ineficiência das políticas públicas dos sucessivos governos do MPLA, ao longo de 45 anos, escancarando toda a nossa vulnerabilidade na saúde, educação, protecção social, gestão urbana, saneamento, combate à pobreza multidimensional e precariedade das infra-estruturas sociais, a exemplo das escolas, hospitais, mercados e habitação. E todos os dias nasce mais um programa de alívio à pobreza, sem que o seu falecido similar tenha sido avaliado para se perceberem as causas da sua morte. Não percebemos que alívio é trazido para a pobreza, se os pobres se multiplicam e as doações não podem chegar a todos, como é óbvio.

São nomeadas comissões para encontrar salvações, fortalecidos reforços com intelectuais da «Especialidade» para nos trazerem conforto na explicação quando à estratégia que devorou milhões de falhas. Já ouvimos especialistas em lixos internacionais, com planos que deviam dirimir a incompetência face aos magníficos resultados esperados, prometendo até reciclar a nossa maledicência, mas que não foram sequer capazes de eliminar o lixo dos vícios instalados pelos eternos negócios de quem ainda tem parentes na cozinha do poder, continuando a aumentar a sua nauseabunda e primitiva riqueza. Sem mecanismo de alerta e avaliação interna, fora das avaliações muitas vezes pagas a peso de ouro para falarem bem de nós e, por isso, sem mérito, a exemplo daquele «Prémio» que Angola recebeu há alguns anos em Roma por ter acabado com a Fome ou dos diplomas outorgados por algumas empresas de consultoria clientes do Estado. Quem está a avaliar o futuro que, neste momento, está descalço, desnutrido, desabrigado, analfabeto, inclinado e sem capacidade para construir esperança para a maioria do povo que ainda não tem paz no prato? A avaliação destas e muitas outras questões públicas de "difícil resolução" é uma exigência que deve ser feita ao Executivo por ser uma Boa Prática e uma prova de Boa Governação, tão eficazmente defendida nas eleições de 2017.

O actual modelo de gestão, herdado do anterior consulado, não tem demonstrado perspicácia para corrigir o que estava mal, porque também se alicerça no compadrio, na militância e em aspirações de poder pessoais e que são manifestamente opostas ao interesse de uma agenda nacional e ao interesse da ciência. As intenções oferecidas na campanha eleitoral, que foram reconhecidas aqui e no exterior, por terem competência para mudar o rumo do País, são cada vez mais difíceis de defender pela quantidade de erros que estão a ser cometidos, desvirtuando a intenção. Se continuarem incapazes de construir condições de dignidade colectiva, a derrota do povo será evidente nas próximas eleições, pelo seu doloroso empobrecimento, em todos os sentidos, e pelo constante apelo a que aceite mais sacrifícios, não obstante em 2022, terem passados 47 anos, desde que o País ficou nosso e já não ser credível culpar nenhuma força oculta.