Tinha o autor deste editorial 18 anos quando foi cobrir, enquanto jornalista, os resultados horrendos do Massacre de Kassinga, acompanhando as vítimas de um ataque hediondo que apenas serviu para destruir infra-estruturas e assassinar populações. Na mesma fase em que se apercebeu que o verdadeiro eixo do mal, desde o fim da longínqua Segunda Guerra Mundial, era personificado por governos como o dos Estados Unidos da América e os seus sequazes. Como, por exemplo, o Estado de Israel. Cujo material de guerra esteve sempre disponível para o apartheid sul-africano e para os crimes de guerra que os angolanos sofriam diária e constantemente.

Mais recentemente, lembra Arik Bender, do jornal Maariv, que "os dois líderes de então [Netanyahu e Peres] obviamente nunca mencionaram o facto histórico de que Israel manteve uma aliança vergonhosa com o regime racista quando este era considerado pária pela comunidade internacional". E são, ainda hoje, muitos os analistas que lembram que, durante o período em que os patriotas sul-africanos lutavam contra o apartheid, Israel vendia armas ao governo sul-africano e manteve essa aliança militar por vários anos, apesar do boicote generalizado da comunidade internacional. Acabou por aderir às sanções internacionais contra a África do Sul em 1987, dez anos após o embargo decretado pela comunidade internacional ao regime do apartheid.

Tantos anos depois, Israel continua a ser manchete um pouco por todo o lado pelas piores razões. Pela violência, pela agressividade, pelo terrorismo diário que pratica contra as populações palestinianas colonizadas. Pelo belicismo. Pelo seu apartheid, principalmente.

O Estado de Israel é hoje o responsável pela maior indústria de segurança interna do Mundo. A indústria de armamento israelita é, segundo Gabriel Schivone, duas vezes mais importante que a sua congénere norte-americana em volume de exportações por habitante. Resposta de Guy Keren, presidente de uma empresa de segurança interna israelita denominada IHLS a estes factos: "Apuramos os nossos sistemas em tempo real [...]. Gaza é um excelente laboratório [...]."

Outra empresa de segurança israelita descreve Gaza, segundo outra jornalista, Leila Stockmarr, como um "salão de exposições para as vedações inteligentes" das empresas "cujos clientes apreciam o facto de os produtos serem testados em combate"!!! Sublinha ainda que os palestinianos de Gaza são usados como cobaias na fase de testes. Durante os últimos seis meses, de acordo com o site www.oladooculto.com, o Ministério da Saúde em Gaza registou os efeitos provocados em seres humanos pelas chamadas balas-borboleta que explodem ao contacto com a vítima.

Lembremos ainda Ronnie Kasrils, activista sul-africano e ex-ministro da Segurança no governo de Mandela: "O regime imposto por Israel sobre a população palestina é muito pior do que o apartheid que marcou a história da África do Sul". E recordemos que ainda há pouco mais de uma semana, nas Nações Unidas, Israel voltou a votar ao lado dos EUA, contra o levantamento do bloqueio criminoso que estes mantêm contra Cuba. O único estado do mundo, além dos Estados Unidos a fazê-lo.

É mais do que evidente que homens de bem, como tentamos ser, muito para além de questiúnculas políticas, não podemos sequer apertar a mão a gente como esta, que repete de forma macabra o que vimos, ainda com 20 anos de idade, numa visita de estudo à Alemanha em Buchenwald ou em Sachsenhausen. Não voltaremos, pois, a este assunto, a menos que seja para continuar a denunciar as atrocidades dos governos de Israel.