As mudanças geracionais, mais ou menos a partir dos anos 90, trouxeram como consequência, não apenas desvios do ponto de vista do respeito pela moral, pela integridade intelectual e pela generalidade dos valores então prevalecentes nas nossas sociedades, como lançou essas forças partidárias no mais profundo vazio ideológico, típico de um mundo contemporâneo, onde os escribas defensores de uma globalização injusta que serve por norma as grandes potências e esmaga os chamados países em vias de desenvolvimento, querem impor há muitos anos um suposto "fim das ideologias". Que facilitaria, e de que maneira, o papel colonizador e neo-colonizador que cada vez vai tendo mais espaço - por nossa única e exclusiva responsabilidade - continuando a rapar as nossas matérias-primas e a impor-nos uma realidade económica cruel e injusta.

O recurso a uma camada das novas burguesias nacionais que não sabe já o que é ter sentimento patriótico; que desconhece minimamente que seja qualquer visão político-ideológica que possa definir o que querem fazer nos diversos países onde integram, com demasiado poder, as estruturas políticas e partidárias; que por detrás dos títulos (em alguns casos pseudo-títulos...) universitários defendem demagogicamente pessoas e não instituições ou ideologias; que nunca estudaram nem demonstram capacidade para defender uma opção político-ideológica seja de que índole for; que não conhecem os países no mais profundo da sua realidade - tudo isto vai resultando numa deterioração constante dos programas fundadores das forças políticas a que pertencem, num abandono cada vez maior das bases sociais de apoio que foram sustentando o seu próprio poder e numa deterioração indiscutível dos centros de discussão.

De alguma forma esta classe dominante, a maior parte das vezes impreparada política, ideológica e culturalmente, acaba por nos convencer de que partidos e projectos políticos que eram fortes, coerentes, capazes de entusiasmar e de fazer criar grandes movimentos sociais, tornaram-se centros de defesa de interesses privados, levando a que essas mesmas estruturas percam o Norte e nada mais apresentem a não ser um olhar doentio para o próprio umbigo e a defesa desesperada, ignorante e sem nenhum sentido de Estado dos seus interesses privados. É por isso importante, que os centros colectivos de decisão desses partidos políticos, existentes nos vários poderes ou nas oposições, em particular na África ao sul do Sahara, como já frisámos, discutam, aprofundem e debatam estes problemas, esta realidade, triste, mas verdadeira.

Em primeiro lugar têm que se definir numa perspectiva ideológica. Têm que saber, pelo menos, como se posicionam politicamente, antes de defenderem as grandes políticas nacionais, todas mais ou menos variáveis do mesmo, porque todas despidas de quaisquer princípios.

Em segundo lugar, é obrigatório que deixem de ser um enorme saco de gatos onde cabe gente de todas as matizes ideológicas, integrando militantes até com graus elevados de responsabilidade que não sabem sequer qual a sua própria orientação ideológica. A defesa de interesses privados não pode nem deve continuar a ser transposta para estruturas que têm História, que têm caminho e que não podem ser tomadas por gente cujo papel é defender os seus próprios interesses.

Isso passa necessariamente pelo estudo, pelo debate, pela escolha básica de caminhos que podem ajudar a definir a saída dos problemas imensos em que estamos afundados ou, pelo contrário, levar a que nos afundemos cada vez mais.

Ora, além de exercícios de retórica pobres, medíocres, sem nenhum conhecimento que se veja da correspondência entre os estatutos dos partidos e o que defendem verbalmente, nada mais temos visto que o exercício da política enquanto venda de banha de cobra, a exemplo das igrejas e cultos que pululam um pouco por todo o país e cujo papel é o de explorarem sempre e cada vez mais a generalidade das populações.

Antes de tudo, os partidos têm de definir o que são, o que querem e o que defendem. Como se posicionam ideológica e politicamente. E não acabarem por ser meros repositórios de interesses que nada têm a ver com a esmagadora maioria dos seus militantes.