Devido à publicação directa desses contratos nos jornais, dois pólos antagónicos têm estado a dominar a opinião pública nacional, relativamente à revelação daquilo que se considerava segredo de estado e cujo fim último era a garantia da segurança nacional em contexto de ameaças externas, como são os casos dos ataques terroristas no Norte de Moçambique, mais concretamente na província de Delgado.

A classe jornalística Moçambicana, contrariamente ao argumento segundo o qual estes documentos nunca deveriam ter sido divulgados, acredita que, havendo um interesse superior de salvaguardar o direito à informação sobre os contornos da guerra e do fornecimento da logística para as forças de defesa e segurança, a divulgação destes documentos era um acto legítimo. O argumento segundo o qual a divulgação de documentos classificados representa um crime contra segurança do estado é rebatido pelos jornalistas que argumentam que esta classificação apenas serve para inibir o acesso a determinados documentos do estado sob a capa de documentos classificados.

O certo é que, apesar das divergências nas opiniões sobre as questões ligadas ao segredo e à segurança de estado, bem como sobre a classificação de documentos, há um entendimento generalizado segundo o qual há uma cultura bastante enraizada em Moçambique, caracterizada pela classificação excessiva de informação do Governo, que beneficia poucos e privilegia um punhado de cidadãos que beneficiam do acesso restrito e violam de forma grosseira o acesso a informação.

A polémica serviu, igualmente, para medir o pulsar da sociedade sobre o direito à informação e seus limites que demonstrou que, apesar de existir um processo formal que não é único nem exclusivo contra jornalistas em Moçambique, a intimidação de jornalistas e de outros profissionais dos media representa uma realidade bastante aceite e comummente consentida num contexto em que muito poucos conseguem discernir as diferenças e as responsabilidades de quem vela pela soberania do estado em contraposição ao quarto poder, cuja maior missão está ligada à divulgação, ainda que com contornos criminosos de toda a informação de interesse púbico que está guardada sob a capa de segredo.

A verdade é que, com ou sem polémica, não é possível conceber uma sociedade crítica e robusta, sem respeitar e defender o direito à informação, e a questão que contínua sem resposta é: Como se pode materializar o direito à informação sem violar os preceitos básicos da classificação de documentos a nível do estado?