Os nossos telemóveis enchem-se de imagens de assaltos e violência que, por nos apresentarem a realidade, deixam o sinal positivo nas nossas mentes.

As discussões à volta disso invadem os argumentos de exclusão, daí que as partilhas sejam vistas como necessárias, prementes e como um acto quotidiano e voraz.

Querendo ou não, todos olhamos para o acidente, para a discussão na rua, para os desafectos da Polícia e o corpo ensanguentado, e imaginamos o capítulo que se segue da traição partilhada, como se de um fait-diver se tratasse.

Num segundo, vemo-nos também a disparar vídeos pela nossa lista telefónica, ignorando conceitos e sendo, na verdade, o que a nossa essência nos caracteriza: humanos, já que no acto da nossa criação tudo se mistura e se cruza, do melhor ao pior, do bom ao mau e, obviamente, não há recurso imediato à consciência e ao pensamento.

O que se vive hoje não tem definição no dicionário, não é sequencial, não é novela e sem ter sido idealizado no século passado é um grande Prime Time.

Muita coisa foi projectada para este novo milénio: os ditames da economia, o poderio militar, a geopolítica..., mas outras tantas foram esquecidas, provavelmente a mais importante seja a sã convivência das pessoas que hoje concentram vários mundos e culturas em si.

O apologista da negritude ou da causa negra nos Estados Unidos não é necessariamente negro, não ouve Nina Simone, não lê sobre Huey Newton ou Bobby Seale e talvez nem olhe para o segregacionista sistema judicial e nem marchou por George Floyd. Vendo bem o homem de dreadlocks sentado aqui ao lado de mim, não pensa em Marcus Garvey ou Haile Selassie.

Se no passado era preciso uma ideologia para viver, neste presente bastará seguir um qualquer que, com um escrito ou um acto, nos emocione ou nos conquiste, sem questionar.

A imensidão de horas perdidas na visualização de fotos e de histórias no telemóvel introduz as pessoas a uma nova paixão e prazer que é caso de estudo e novo recurso de milhares de psicanalistas. Entende-se que nem sempre é valor acrescentado ou benéfico, mas acaba por ser a morfina para as loucuras do dia, uma solução generalizada para tudo.

As crianças choram, e o telemóvel é o mais delicioso calmante; o parto vai em directo para o Instagram; a bebedeira do pai ou do amigo tem sucesso garantido e, quando o vizinho pula o muro, todos espreitam, só que, desta vez, não é à janela.

Se estes actos se tornaram tão comuns e aceitáveis, devemos começar a procurar os sins e os camaradas, com a prontidão que se impõe e a partir de uma revolução intrínseca e pessoal, mas não de todo singular.

Quem nos envolve deve olhar para o positivismo com que o faz e quem se vê envolvido deve sentir-se camarada para apontar as incongruências de tais feitos.

A promoção das mudanças e os seus sinais devem começar pela assumpção de que é impossível estarmos sós em qualquer regime social ou plataforma que funcione sob um sistema. Daí a alusão ao comunismo (neste texto) que ao não ser visto na sua génese é um princípio que pode significar uma nova etapa neste modo que se alonga.