(Carta Primeira dos Estudantes)

Ilustre, falo em nome de milhares de angolanos, seus conterrâneos (e parentes se calhar) que estão a passar muito mal desde que as políticas cambiais adoptadas pelos bancos angolanos entraram em vigor há cerca de quatro anos, limitando a venda de divisas a quem precise (mesmo) de viajar, bem como complicaram a aquisição, carregamento e uso dos cartões visa de débito e crédito no exterior do país, sem esquecer que nos têm criado graves empecilhos para transferir os parcos kumbus para nos sustentarem, sem haver nenhuma justificativa plausível, justa e aceitável aos clientes.

A última vez que vimos divisas vindas da banda foi num Natal qualquer, que até esquecemos, os nossos kotas tiveram que ir ao Mártires caular na rua, ao preço três vezes maior do que o dos bancos. Só não entendo, sr. Governador, como é que os bancos dizem que não têm, mas nas ruas as divisas estão anduta?! Assim é como?

Será que na rua tem lá fábrica? Ou fornecedor directo dos bancos da estranja?

Os nossos pais fizeram das tripas coração para nos enviar em busca de melhores condições de ensino para que possamos nos formar e voltarmos como quadros válidos para ajudar o nosso país crescer. Tal como nós, também estão cá na estranja bolseiros do Estado e de instituições estatais e privadas nas mesmas situações, a penarem igualmente na mendicância de ser angolanos no exterior, algo que outrora fora orgulho sem igual, hoje dá vergonha e causa repúdio e humilhação...

Desde que a v/ gestão e as antecessoras decidiram "apertar" o cinto do pobre cidadão, que aqui deixamos de usar cinto, de tão magros que estamos e tão nus que andamos, visto que tivemos que paiar todos os grifes e farrapos para pagar as nossas contas e despesas de sobrevivência, como renda, alimentação, transporte, escola, saúde, seguros, gás, luz, água... e desde então estamos a sobreviver como cada um consegue.

Os contentores de lixo hoje são os nossos melhores kambas, nos fornecem pitéu, roupas, jornais e outros utensílios necessários à nossa sobrevivência, que sem eles seríamos mais uns nas estatísticas dos sem-abrigo sucumbidos nas terras gélidas alheias de algum ex-colonizador, mas que nos acolheu ontem... só não temos mais frio, porque por falta de banho a nossa pele tá mais grossa que casca de coco!

As boas notas na escola sumiram, são que nem boas memórias, ficam mesmo na recordação, porque à escola já não vamos faz tempo por causa das dívidas, os bons momentos estão no museu dos nguimbos sofridos por não terem onde recostar a cabeça para descansar um coche. Voltar? Quem nos dera, a TAAG nos cortou essa possibilidade, mesmo as nossas famílias tendo kwanzas (moeda nacional) não podem caular os bilhetes porque a companhia das bandeiras não permite que sejam comprados bilhetes em Angola para quem vem de fora, nem que seja um quase cadáver, como é o nosso caso, só aceita vender bilhetes em USD, euros, rands ou outros kumbus da estranja, nada de confiança com o Kz nosso de cada dia.

(Leia este artigo na íntegra na edição n.º463 do Novo Jornal, nas bancas e também disponível por assinatura digital, que pode pagar por MultiCaixa)