E fomos sentindo, das mais diversas maneiras, que o resultado de milhares de quilómetros de textos, artigos, opiniões, crónicas, críticas, elogios, pensamentos, previsões, constatações terá surtido algum efeito entre o(a)s pouco(a)s que, teimosamente, nunca nos deixaram de ler, de ouvir ou de ver.

Nunca pretendemos ser donos de todas as verdades nem cidadãos acima do comum dos mortais, sujeitos, por isso, a erros, a visões erradas, a pontos de vista discutíveis, como tudo na vida.

Nunca andámos a alardear o que fizemos ou deixámos de fazer mas, ao mesmo tempo, sempre nos recusámos a viver em cima do muro, fingindo que não víamos o que se passava à nossa volta.

Estando à vista de todos o que fizemos, fazemos e continuaremos a fazer, ganhámos consciência de que éramos mais vulneráveis que praticamente todos os outros. Que os juízos de valor seriam sempre repartidos entre a concordância e a discordância, entre o assentimento e a reacção contrária e, em alguns momentos mais difíceis, entre o que gostavam que escrevêssemos e o que a nossa consciência nos dizia para fazer.

Também aí aprendemos que o unanimismo é o pior inimigo do progresso e da democracia. Que a concordância cega e absoluta não é saudável para ninguém, como não o é o acto de discordar só por discordar, sem um pensamento alternativo, sem propostas concretas, sem fundamentar com inteligência e consciência o que está(va) errado e corria mal.

A nossa escola profissional - ao contrário do que hipocritamente alguns vão tentando vender desde há muitos anos, contrariando em si mesmo à partida o que dizem defender - nunca passou por "vender" uma imagem supostamente isenta, acima de tudo e de todos. Nunca se vestiu de uma pretensa ausência de opinião, em nome de um afastamento político e cívico de cada acontecimento, o que não seria, desde logo, humanamente possível. Nunca se cingiu aos factos, como pretendem os grandes mecanismos da comunicação social mundial, que nos enganam todos os dias, pois só nos apresentam os factos que lhes interessam e na perspectiva do que possa defender os privilégios e as prerrogativas dos grandes grupos económicos a que estão sempre associados.

Em cada momento da nossa História, desde que passámos a ter alguma voz, tomámos posições, defendemos valores, princípios, atitudes. E pagando às vezes um preço muito alto, sempre e acima de tudo de acordo com a nossa consciência, com a nossa perspectiva e dos seus múltiplos contornos.

Teremos errado tanto como acertámos. Teremos falhado tanto como tivemos sucesso. É mais do que evidente que continuaremos a ser o alvo mais fácil, mais simples, mais mediático. Porque é sempre mais fácil sermos criticados. Porque não podemos agradar a "gregos" e a "troianos". E porque temos sempre de contar com aqueles que, por feitio, vendo a bola redonda, são capazes de gritar que ela é quadrada até que nós, num assomo de desespero, concordamos, só para não os ter de aturar. E nesse preciso momento, respondem-nos que a bola é mesmo redonda... A verdade é que, como tudo na vida, o mais difícil é, sem nos pormos à venda nem servirmos de "voz do dono", manter o equilíbrio, a ponderação, dar voz aos que a devem ter, pô-los a discutir, a debater, ainda que tenhamos a nossa própria visão de um dado acontecimento. E, errando ou acertando, vendo bem ou menos mal à distância, falhando ou acertando um prognóstico, que ninguém nos possa dizer, gostando muito ou pouco do que fazemos, que o que nos saiu de dentro foi resultado de uma qualquer encomenda, de uma qualquer "ordem superior", de um qualquer "favor" seja a quem for.

Alguns (algumas) deveriam passar por aqui, estar numa banca durante alguns meses, ter de decidir o que pode ou não ser justo, o que pode ou não ser verdadeiro, ou que não deve ou não ser publicado. Não ficariam por aqui muito tempo. A menos que fossem de preço fácil. E não há nada nem ninguém que valha uma consciência tranquila. Talvez um dia, só por isso, sem ser preciso gostar da nossa cara ou do que escrevemos, entendam o respeito que merecemos.