"No meu tempo de vida dediquei-me à luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Prezei muito o ideal de uma sociedade livre e democrática, na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com direito a oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e tenho esperanças de realizar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer", disse Mandela, a 20 de Abril de 1964, sentado no banco dos réus, durante o Julgamento de Rivonia, em Pretória, África do Sul.

No Dia Internacional Nelson Mandela, instituído em Novembro de 2009 pela Assembleia-Geral da ONU, o NJOnline falou com alguns representantes políticos de Angola. Seja qual for o partido a que pertencem, o consenso no que respeita ao legado de Madiba é uníssono.

A UNITA descreveu o ex-Presidente sul-africano como sendo uma "figura extraordinária, homem carismático e africanista por excelência. Uma figura incontornável".

Alcides Sakala, que conheceu Mandela, lembra que "deu um contributo para a paz no mundo e na África do Sul em particular".

"Tivemos o privilégio de conhecê-lo pessoalmente nos vários encontros que tiveram lugar entre Nelson Mandela e Jonas Savimbi. Legou para a história do seu país ensinamentos importantes que podem contribuir para a estruturação do debate político em Angola, assente na sua filosofia sobre a importância do consenso nacional", referiu.

Segundo o político, a mudança de símbolos na Africa do Sul por inspiração de Nelson Mandela "é um exemplo que deve ser seguido em Angola".

"Angola precisa urgentemente de novos símbolos nacionais que falem dos heróis do 15 de Março, 4 de Fevereiro e 13 de Março", concluiu.

O vice-presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, disse que Nelson Mandela foi "um lutador incansável pelos direitos humanos na África do Sul e a nível internacional".

"Ele foi um líder do movimento de resistência a opressão da minoria branca sobre a maioria negra na África do Sul e venceu a batalha", resumiu.

O presidente do PRS, Benedito Daniel, disse que Nelson Mandela foi um homem de paz e conseguiu unir o seu povo, apesar de ter passado vários anos na cadeia.

"Foi um líder pelo seu exemplo, inspirou várias pessoas que também seguiram as suas causas. O mundo jamais vai esquecer essa figura de grande envergadura no mundo e em África", destacou.

O membro do MPLA, Raul Miranda Ngunji, disse que o ex-Presidente sul-africano foi um líder mundial da luta pela igualdade.

"As suas obras nunca serão esquecidos. A sua trajetória de vida foi marcada pela força de vontade e senso de justiça", resumiu.

Em reconhecimento da contribuição de Mandela para a cultura da paz e da liberdade, a Assembleia Geral da ONU declarou, em Dezembro de 2009, o dia 18 de Julho como "Dia Internacional Nelson Mandela".

O espírito deste dia internacional consiste em dedicar 67 minutos a ajudar os outros.

Biografia de Nelson Mandela no site da ONU

Nelson Rolihlahla Mandela (nascido a 18 de Julho de 1918) foi um activista revolucionário Sul-Africano contra o apartheid, e um político que foi Presidente da África do Sul entre 1994 e 1999. Mandela foi o primeiro negro Sul-Africano a desempenhar essa função, e o primeiro eleito numa eleição multirracial e totalmente representativa.

O seu governo concentrou-se em desmantelar o legado do apartheid, combatendo o racismo institucionalizado, a pobreza e a desigualdade, e promovendo a reconciliação racial. Ao longo de 67 anos, Nelson Mandela dedicou a sua vida ao serviço da humanidade - enquanto advogado de direitos humanos, prisioneiro de consciência, mediador internacional para a paz, e como primeiro presidente eleito democraticamente numa África do Sul livre.

Nascido em Xhosa na família real Thembu, Mandela frequentou a Universidade de Fort Hare e a Universidade de Witwatersrand, onde estudou direito.

Embora inicialmente comprometido com o protesto não violento, em 1961 Mandela liderou uma campanha de bombardeamentos contra alvos governamentais. Em 1962 foi preso, condenado por sabotagem e conspirar para depor o governo e condenado a prisão perpétua no Julgamento Rivonia. Mandela passou 27 anos na prisão.

Como Presidente, estabeleceu uma nova constituição e iniciou uma Comissão de Verdade e Reconciliação para investigar violações passadas de direitos humanos. Continuando a política económica liberal do anterior governo, a sua administração introduziu medidas para encorajar a reforma agrária, combater a pobreza e expandir os serviços de saúde.

Com grande controvérsia em torno de parte da sua vida, os críticos de direita denunciaram Mandela como sendo terrorista e simpatizante comunista. Apesar disso, Mandela foi congratulado internacionalmente pela sua acção anti-colonial e anti-apartheid, tendo recebido mais de 250 prémios, incluindo o Prémio Nobel da Paz em 1993 e a Medalha Presidencial da Liberdade dos EUA. Na África do Sul, Mandela é olhado com grande respeito, e é frequentemente tratado por Madiba, o seu nome do clã Xhosa, ou por Tata, que significa "pai", e é frequentemente descrito como "o pai da nação".