Os congoleses democráticos contactados pelo NJOnline em Luanda desejam que o Tribunal Constitucional, que vai decidir os resultados definitivos dentro de 14 dias, actue com transparência para se evitar transtornos à volta do processo.

Nsimba Malonga, que vive em Angola há 20 anos, disse que o importante é que a oposição venceu as eleições, colocando o candidato indicado por Joseph Kabila, Emmanuel Ramazani Shadary, em terceiro lugar.

"No terreno estiveram mais de 40.000 observadores da Igreja Católica que acompanharam a votação. Estes afirmam que Martin Fayulu ganhou as eleições. Estamos à espera que o Tribunal Constitucional faça um apuramento sério para respeitarem a vontade expressa pelos congoleses democráticos durante a votação", acrescentou.

O comerciante da RDC em Angola, Matondo Kiambi, desconfia haver aliança entre Félix Tshisekedi e Joseph Kabila, já que os partidários do ex-Presidente não contestaram os resultados.

"Os apoiantes de Kabila não contestaram o resultado, penso que há um segredo nesta história. Mas, seja como for, vamos esperar o desfecho da situação", referiu.

Numa altura em que foram divulgados os resultados provisórios, que dão 38,5% dos votos a Tshisekedi, o congolês Kiamesso Sengany, em Angola há 14 anos, apela às autoridades e aos seus compatriotas a não recorrerem à violência e a aceitar o resultado eleitoral com espírito de paz e esperança.

"O povo da RDC enfrenta muitas dificuldades, espero com estas eleições que haja paz e tranquilidade porque a violência não ajuda resolver os nossos problemas", aconselhou.

Segundo a nossa fonte, como a RDC partilha uma longa fronteira terrestre com Angola, o país também beneficia de uma situação pacífica, emergindo, em situação contrária, como o primeiro palco de refugiados congoleses.

"A RDC faz fronteira com muitos países africanos. Se houver conflitos, os vizinhos não ficam bem. Por isso, espero que o Tribunal Constitucional faça um trabalho transparente para o bem da RDC e dos países vizinhos", disse.

Dúvidas sobre resultados

O refugiado Nanga Makenda salientou, em declarações ao NJOnline, que os resultados das eleições presidenciais publicados pela Comissão Eleitoral Nacional Independente não correspondem aos dados recolhidos pela missão de observação das estações de votação e contagem.

"Os 40.000 observadores eleitorais que acompanharam a votação concluíram que Martin Fayulu é digno vencedor das eleições. Espero o Tribunal Constitucional não caia nas manobras da Comissão Eleitoral Independente", adiantou.

Também Malonga Etinda, que vende relógios na baixa de Luanda há 10 anos, está de acordo com a contestação da Igreja Católica sobre os resultados das eleições presidenciais na República Democrática do Congo, que tiveram como vencedor o líder de oposição Félix Tshisekedi.

"A Igreja Católica enviou observadores para todo o País. Não há dúvidas de que as eleições foram vencidas pelo candidato Martin Fayulu", reforçou.

"Martin Fayulu Madidi fez bem em rejeitar os resultados publicados pela Comissão Eleitoral, porque toda a manobra aconteceu com a corte das comunicações a nível do País", acrescentou.

Na embaixada da RDC em Angola ninguém quis falar ao NJOnline sobre as eleições, remetendo um pronunciamento para quando o Tribunal Constitucional declarar o vencedor.

Recorde-se que a Comissão Eleitoral da RDC informou que um dos candidatos da oposição, Felix Tshisekedi, venceu as eleições presidenciais.

Tshisekedi recebeu mais de sete milhões de votos, contra os mais de seis milhões arrecadados pelo outro candidato da oposição, Martin Fayulu, e por aquele apoiado pelo partido do Governo, Emmanuel Ramazani Shadary, que obteve mais de quatro milhões de votos.

"Tendo obtido 7.051.013 votos válidos, ou 38,57%, é proclamado provisoriamente Presidente da República Democrática do Congo, Sr. Tshisekedi Tshilombo Félix", disse o presidente da Comissão Eleitoral, Corneille Nangaa.

Este resultado ainda pode contestado junto do Tribunal Constitucional, que tem 14 dias para validar a votação.

O anúncio do sucessor do Presidente cessante Joseph Kabila, inicialmente previsto para domingo, surge na sequência de pressão internacional e num clima de suspeição entre a população, que temia uma manipulação dos resultados.