A deslocação de trabalho à capital angolana do ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) português tem como objectivo maior preparar a visita de Estado do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a Angola em Março, mas foram os negócios entre os dois países que permitiram mostrar que Lisboa e Luanda estão claramente a concertar posições para definir o futuro das relações entre os dois Estados.

Se Manuel Augusto disse aos jornalistas que Angola está a dar os "passos certos" para que o empresariado português veja no país uma boa oportunidade de negócio, com a extinção de algumas barreiras que emperravam um maior fluxo de investimento luso, o seu homólogo Augustos Santos Silva foi lesto a corresponder, confirmando que, também na sua opinião, que corresponde à opinião do Governo de Lisboa, o actual quadro macroeconómico e orçamental angolano é de molde a criar "imensas" oportunidades de negócio para os investidores portugueses.

O MNE português vai estar 24 horas em Luanda, com uma agenda quase integralmente ocupada com a preparação da visita de Estado do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a Angola, no início de Março, mas Santos Silva não deixou de dar foro de importância cimeira à questão dos muitos acordos assinados e ratificados durante e após a visita de Estado de João Lourenço a Portugal, em Novembro do ano passado, como, sublinhou, o que permite o fim da dupla tributação, que deve estar activo muito em breve.

Alias, o governante português fez questão, percebendo a importância que o desenvolvimento económico tem actualmente para Angola, país que atravessa uma prolongada e intensa crise desde que o valor do barril de crude deu um forte trambolhão em meados de 2014, de lembrar que ocorre neste momento um "fluir" claro da situação financeira angolana e que, perante isso, os empresários portugueses "têm uma esperança renascida".

Augusto Santos Silva lembrou ainda que é importante que Portugal e os seus empresários correspondem a uma expectativa clara que existe em Angola, como ficou claro quando em Novembro do ano passado o Presidente João Lourenço, recordou o MNE português, disse no Porto que queria que os empresários portugueses ajudem Angola "a substituir as importações, a consolidar a economia Angolana" e que esse caminho seja importante para "diversificar a economia" angolana, frisando que o país quer os investidores portugueses.

"Essa mensagem (de João Lourenço), na sua clareza, desafia-nos a todos. Estamos de acordo com ela e temos de responder positivamente", disse Santos Silva, citado pela Lusa, acrescentando que "o novo quadro macroeconómico e orçamental que se vive em Angola abre imensas oportunidades para as empresas portuguesas" e confirmou que actualmente, em cima da mesa, com destaque, está a questão da regularização dos pagamentos, ponto de trabalho para a reunião de hoje entre os secretários de Estado portugueses da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, e Adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, com o ministro das Finanças angolano, Archer Mangueira.

Santos Silva tem hoje de manhã um encontro com Manuel Augusto e antes do meio-dia será recebido pelo Presidente da República. O MNE português deixa luanda ao final do dia.

Mas, ainda ontem à noite, Manuel Augusto, logo após ter recebido o seu homólogo português, defendeu a ideia de que, com a nova realidade macroeconómica angolana, há muitos investidores que não tinham negócios no país que agora querem dar esse passo.

"Está tudo bem encaminhado. Estamos a dar os passos certos, a contornar obstáculos que aparecem naturalmente e a questão a financeira está a fluir, pelo que os empresários têm uma esperança renascida. Sentimos que há um movimento impulsionador que leva a que aqueles que até agora não tinham negócios em Angola queiram fazê-lo", afirmou o MIREX.

Sobre o actual momento das relações entre Luanda e Lisboa, sendo claro que longe vai o "irritante" que em 2017 e 2018 manteve a diplomacia entre os dois países no fio da navalha, por causa, recorde-se, das questões judiciais que envolviam o ex-Presidente Manuel Vicente na justiça portuguesa, Manuel Augusto sublinhou que se está num momento em que é possível criar "um ambiente propício para os negócios".