Qual é o estado actual da UNITA?

Neste momento, o partido entrou na dinâmica de reavaliar toda a conjuntura política, doutrinária, estrutural e estratégica, para poder relançar a sua organização. A liderança do actual Presidente da República, João Lourenço, foi sensível a esta conjuntura. É assim que a UNITA tem estado envolvida no cumprimento de mais uma etapa, durante o seu processo histórico.

O senhor era apontado como um dos mais críticos da liderança de Isaías Samakuva. Que avaliação faz do actual presidente?

Samakuva «agarrou» nos processos deixados pelo fundador da UNITA, Dr. Jonas Savimbi, e prosseguiu com a transição. Era difícil, naquela altura, devido ao desaparecimento prematuro do então nosso presidente. Assim, a conjuntura permitiu que tivéssemos uma liderança que se estendeu durante 16 anos. Os processos não foram conclusivos, continuamos actualmente na liderança com Adalberto Costa Júnior, na passagem de um partido envolvido com a guerra para um partido clássico. Por isso, temos uma liderança que está na continuidade, mas com outra missão pela frente.

Pretendem modernizar o partido?

O momento vivido pelo partido pode ser chamado de modernização ou contextualização, porque a UNITA, desde 2002, ano da assinatura dos Acordos de Paz, se desfez do seu braço armado, as FALA. Esta conjuntura é outra missão, que vai permitir estabelecer um partido com vocação de Governo, forte e um concorrente de respeito que tem de dar a conhecer ao povo angolano a sua matriz político-social e de Governo. Pensamos que a liderança de Adalberto Costa Júnior começa bem, mas ainda é muito cedo para avaliar o seu desempenho. De momento, está num bom rumo.

Numa entrevista concedida há anos a um canal internacional, afirmou haver a necessidade de implementação de uma estratégia, para que a UNITA evitasse a perda de terreno. Chegou a efectivar-se este plano?

A UNITA tinha um território sob seu controlo. Hoje, há estudos não conclusivos que vamos levar a cabo para determinar, em obras a serem entregues a pesquisadores, sobre a administração que tinha naquela altura. Este trabalho está a ser feito, mas, com a transição de um partido com aquela dimensão, vê-se, hoje, que acabou por perder algum terreno. Em política, não vamos esperar como se estivéssemos numa missão de evangelização ou de humanismo. Cá há interesses em jogo. O MPLA jogou com os seus interesses e tentou tirar muito protagonismo que nós tínhamos.

Há quem defenda que o maior problema é o desequilíbrio existente em relação ao MPLA. Concorda?

O equilíbrio faz-se com a força política que a UNITA vier a estabelecer, e é esta a luta que ela está a fazer. A UNITA tem de ser auto-suficiente do ponto de vista político, económico e social, para poder ombrear com o MPLA em posições de respeito, como patriota e angolanos, mas com interesses extremamente opostos. O MPLA tem uma perspectiva de sociedade, e a UNITA, outra. Temos um pendor cujo desafio é de apoio às classes mais exploradas. Também não estamos aqui a dizer que não vamos olhar para aquelas classes mais abastadas, uma vez que elas são parceiras úteis do Estado, por isso só construindo riqueza é que se pode distribuir riqueza. Se tivermos sempre pessoas egoístas, teremos sempre cidadãos desempregados, má formação, sem escola nem sistema de saúde moderno.

Há quem diga que a actual liderança da UNITA se tem mostrado incapaz de desalojar o MPLA.

Temos os nossos pontos fracos e sabemos das razões que estiveram na base disso.

A que pontos fracos se refere?

Já há ali questões de fraudes eleitorais e outras são questões que vamos tentar deixar para trás, mas exigindo à actual liderança de João Lourenço um Estado Democrático e de Direito, onde as leis plasmadas na Constituição e as normas que regulam e variam de instituições a instituições do nosso País sejam cumpridas. Por exemplo, queremos leis que não permitam alguém tirar vantagens ilícitas. Os concorrentes sejam iguais e, o soberano determine o caminho.

Está a dizer que o problema não está na UNITA, mas no partido que governa?

Sim. Já propusemos alterações à Lei Eleitoral, mas o MPLA não quer dar um passo, o que é mau. Assim, está a dar sinais da mesma onda dos processos eleitorais anteriores, em que vamos para o pleito e alguém determina. Mas, desta vez, não vamos permitir que isso aconteça.

O que farão?

Vamos pedir que se aclare a questão da Lei Eleitoral, que permita a mesma igualdade de circunstância, para todos os partidos concorrerem à governação do País.

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